Por Santo Tomás de Aquino
(Suma Contra Gentios, 4, 55)
Enviou Deus seu Filho em carne semelhante à do pecado (Rm 8, 3)
Não foi conveniente que Deus assumisse uma carne impassível e imortal, mas antes uma carne passível e mortal.
Primeiro porque foi necessário aos homens conhecerem o benefício da Encarnação para que, por esse motivo, se inflamassem do amor divino. E foi conveniente que assumisse uma carne semelhante à dos outros homens, passível e mortal, para manifestar a veracidade da Encarnação. Porém, se tivesse assumido uma carne impassível e imortal, aos homens, que desconheciam essa carne, pareceria que fosse um fantasma, e não verdadeira carne.
Segundo, porque foi necessário que Deus assumisse a carne para satisfazer pelo pecado do gênero humano. Ora, um satisfaz pelo outro, quando um assume voluntariamente para si a pena devida ao pecado do outro, mas não devida a si. Ora, a pena devida ao pecado do gênero humano são a morte e os sofrimentos da presente vida. Por isso, foi conveniente que Deus assumisse a carne passível, mortal e sem pecado, para que, sofrendo e morrendo, satisfizesse por nós e afastasse o pecado.
Terceiro, porque, pelo fato de que teve uma carne passível e mortal, nos deu exemplos mais eficazes de virtude, de mais fortemente superar as paixões da carne e utilizá-las para fim virtuoso.
Quarto, porque somos mais confortados na esperança da mortalidade, por ter ele se transferido do estado de carne passível e mortal para o de carne impassível e imortal. E isto nós também podemos esperar para nós, que carregamos agora uma carne passível e mortal. Se, porém, tivesse desde o início assumido carne impassível e imortal, nenhuma esperança de imortalidade teria sido dada aos que experimentam em si a mortalidade e a corrupção.
A Encarnação, como se realizou, foi ainda conveniente ao ofício de mediador, que conosco tem de comum a carne passível e mortal e, com Deus, a virtude e a glória. Sendo assim, podia tirar de nós o que de comum conosco tinha, isto é, a passividade e a morte, e nos conduzir ao que tinha de comum com Deus. Com efeito, foi mediador unindo-nos com Deus.
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