Quaeritur: Encontrei a seguinte declaração num artigo de John Vennari sobre o Modernismo: “O Bispo Sigaud lamentou que o Tomismo esteja sendo substituído pelas perigosas filosofias modernas de Jacques Maritain”.
Maritian não é um dos três filósofos do século XX que você disse serem bons tomistas?
Respondeo: Os três filósofos do século XX no topo da minha lista são:
a) Pe. Reginald Garrigou-Lagrange, O.P.;
b) Pe. Santiago ("Jacobus") Ramírez, O.P.; e
c) Pe. Édouard Hougon, O.P..
Mas Maritain foi sem dúvida um bom tomista em muitos aspectos; na verdade, por sua abordagem tradicional do tomismo, ele é visto como um dos tomistas mais famosos do século passado. Mas há uma dúvida se ele era totalmente ortodoxo.
Eu diria, como Garrigou-Lagrange, que ele não era totalmente ortodoxo. Ele pode ter sido parcialmente infectado pelo modernismo em algumas áreas. (Talvez seja isso que o Sr. Vennari tinha em mente: que ele era um modernista, não que não fosse um tomista. Afinal, um "tomista modernista" é um oxímoro) Em qualquer caso, as opiniões políticas de Maritain são definitivamente não-tomistas e questionáveis (ele tenta defender a democracia com base em princípios tomistas, enquanto Santo Tomás de Aquino e todos os seus discípulos tradicionais são obviamente monarquistas, com excessão de Suárez, que não consideramos como tomista in stricto sensu). Além disso, sua estética e “filosofia do misticismo” também são pouco tradicionais e questionáveis do ponto de vista da revelação. Até mesmo seu estilo de escrita e escolha de expressões são um pouco soltos, não escolásticos e excessivamente existencialistas para os gostos de um tomista tradicional.
No entanto, o conteúdo conceitual de suas obras metafísicas e epistemológicas nada mais é do que um tomismo sólido, padrão e tradicional. Ele também é único entre os tomistas porque é um convertido; ele foi um filósofo não tomista em sua juventude e seu encontro com o tomismo o atraiu para a Igreja. Em seus escritos, ao refutar todos os seus erros anteriores, ele pôde olhar as coisas de uma “perspectiva interna” única. Seu livro epistemológico e metafísico mais conhecido é Os Graus do Conhecimento. É uma discussão tomista muito completa e sofisticada do conhecimento humano. Até mesmo Garrigou-Lagrange (que foi inquestionavelmente o melhor tomista do século passado, e também o diretor espiritual de Maritain em algum momento) elogia Maritain por sua metafísica e epistemologia e até o cita com aprovação em suas próprias obras.
No entanto, assim que Garrigou tomou conhecimento das opiniões políticas liberais de Maritain, aconselhou-o a manter-se afastado da filosofia política e a dedicar o seu tempo às suas questões epistemológicas metafísicas. (Um livro que resume a relação entre esses dois famosos tomistas é O Monstro Sagrado do Tomismo, de Peddicord; lá, diz-se que, quando Maritain, o convertido, tentou persuadir o Pe. Garrigou-Lagrange sobre a democracia, Garrigou sentiu-se indignado e disse algo como: "agora você vai dar um sermão para nós, que somos católicos há 300 anos, sobre uma nova doutrina social católica?!") Isso causou animosidade entre os dois - na verdade, por parte de Maritain, em vez de por parte do santo sacerdote – o que resultou no fim de seus encontros espirituais e de sua amizade por completo. Maritain esperava que Garrigou pedisse desculpas, mas ele nunca o fez.
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