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Subsist in: A doutrina diabólica do Vaticano II

(Paulo VI dando seu anel ao anglicano Ramsey)


O nó da questão é o seguinte. A fé católica ensina desde São Paulo: a Igreja de Jesus Cristo (ou: Seu Corpo Místico) é a Igreja Católica Romana. O Vaticano II ensina: A Igreja de Jesus Cristo SUBSISTE NA Igreja Católica COMO sociedade organizada, SE BEM QUE subsistem fora da Igreja Católica numerosos elementos de santificação.


Essas duas afirmações são equivalentes? São compatíveis? A segunda é um aprimoramento (dogmático ou espiritual) com relação à primeira?


1. O texto


“Hæc Ecclesia, in hoc mundo ut societas constituta et ordinata, subsistit in Ecclesia catholica, a successore Petri et Episcopis in eius communione gubernata, licet extra eius compaginem elementa plura sanctificationis et veritatis inveniantur, quæ ut dona Ecclesiæ Christi propria, ad unitatem catholicam impellunt.”


“Esta Igreja [a única Igreja de Cristo] subsiste na (subsistit in) Igreja Católica como sociedade constituída e organizada neste mundo, governada pelo Sucessor de Pedro e os Bispos em comunhão com ele, embora se encontrem fora dela numerosos elementos de santificação e de verdade, os quais, como dons próprios da Igreja de Cristo, impelem à unidade católica” (Lumen Gentium, I, 8).


O movimento do pensamento e sua expressão são claríssimos, assim como a restrição assim manifestada: subsistit in — ut societas constituta et ordinata — licet extra


2. A continuação desse ensinamento


Esse ensinamento de Lumen Gentium é difundido, repetido, repercutido, aplicado sem parar por todo o ensinamento e prática do Vaticano desde então; não há uma única voz discordante, não há uma única interpretação atenuante. É assim, por exemplo, que o Catecismo da Igreja Católica retoma explicitamente esse ensinamento nos nn. 816, 819 & 870.


3. A origem dessa expressão


A revista Le Sel de la Terre, n.° 49, inverno de 2004, pág. 40, cita uma carta do pastor Wilhelm Schmidt ao Pe. Matthias Gaudron, datada de 3 de agosto de 2000, na qual essa origem é desvelada:


“Eu era, na época, pastor da igreja da Santa Cruz em Bremen-Horn e, durante a terceira e quarta sessões, observador no Concílio como representante da Fraternidade Evangélica Michaël, a convite do cardeal Bea. Propus por escrito a formulação subsistit in àquele que era então o conselheiro teológico do cardeal Frings: Joseph Ratzinger, que então a transmitiu ao cardeal.”


Mais católico, mais imbuído da Teologia da Igreja, mais aderente à Igreja Romana, impossível!


4. A agravação desse ensinamento


Não somente os atos posteriores à Lumen Gentium não atenuaram sua afirmação, mas, explicitando o que ali estava contido implicitamente, manifestaram plenamente ou agravaram o seu alcance. Eis dois exemplos disso.


a) Declaração Dominus Jesus de 6 de agosto de 2000


Esse primeiro exemplo mostra que a nova concepção inclui as comunidades heréticas e cismáticas na Igreja de Jesus Cristo, mesmo se a título inferior: o de “comunhões imperfeitas”. Pode-se ler aí, com efeito, no § 16:


“Hæc Ecclesia, in hoc mundo ut societas constituta et ordinata, subsistit in Ecclesia catholica, a Successore Petri et Episcopis in emus communione gubernata. Verbis ‘subsistit in’ Concilium Vaticanum II duas voluit doctrinales affirmationes invicem componere : altera ex parte, Christi Ecclesiam, non obstantibus christianorum divisionibus, solummodo in Ecclesia Catholica plene exsistere pergere ; ex altera vero inveniri ‘extra eius compaginem elementa plura sanctificationis et veritatis’, videlicet in Ecclesiis et Communitatibus ecclesialibus nondum in plena communione cum Ecclesia Catholica. Sed, ad postremas quod attinet, affirmandum est earum virtutem derivari ‘ab ipsa plenitudine gratiae et veritatis quæ Ecclesiæ catholicæ concredita est’.”


“Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, é na Igreja Católica que ela se encontra [subsistit in], governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. Com a expressão ‘subsistit in’, o Concílio Vaticano II quis proclamar conjuntamente duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões entre os cristãos, continua a existir em plenitude só na Igreja Católica; por outro lado, a de que ‘numerosos elementos de santificação e de verdade subsistem fora de suas estruturas’, isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não estão em plena comunhão com a Igreja Católica. Acerca destas, porém, deve afirmar-se que ‘a sua força deriva da plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica’.”


E ao § 17:


“Ecclesiæ illæ quæ, licet in perfecta communione cum Ecclesia Catholica non sint, eidem tamen junguntur vinculis strictissimis, cuiusmodi sunt successio apostolica et valida Eucharistiæ celebratio, veræ sunt Ecclesiæ particulares. Quapropter in his quoque Ecclesiis præsens est et operatur Christi Ecclesia, quantumvis plena desit communio cum Ecclesia Catholica.”


“As Igrejas que, embora sem comunhão perfeita com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos como a Sucessão Apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares. Por conseguinte, a Igreja de Cristo está presente e atua também nestas Igrejas, embora falte a elas a plena comunhão com a Igreja Católica”.


b) Documento emanado da Congregação para a doutrina da Fé


Esse texto, aprovado e confirmado a 29 de junho de 2007 por Bento XVI, tenta mostrar que o Vaticano II não modificou a doutrina católica, e assim o acredita aos olhos do povo cristão – e, sobretudo, aos olhos dos “tradicionalistas”, pois esse documento precede em uma semana o motu proprio no qual a liturgia católica é autorizada na medida em que se reconheça a legitimidade do ensinamento conciliar.


Em cinco questões, o documento examina qual podem ser o sentido e o alcance da expressão subsistit in, e explica tranquilamente que a nova formulação é mais profunda e mais adequada, e que ela tem por objetivo afirmar que as comunidades cismáticas são algo de pertencente à Igreja, [N. do T. – “quelque chose de l’Église”] que elas estão, não fora da Igreja e separadas dela, mas somente em comunhão imperfeita com a Igreja.Mais profunda que São Paulo? Mais adequada que Pio XII? Nada os detém, em Roma!


5. O alcance desse ensinamento


Vindo depois da afirmação solene de Pio XII (e de São Paulo) de que há identidade perfeita – est – entre a Igreja Católica e o Corpo Místico de Jesus Cristo, o Vaticano II afirma que a Igreja de Jesus Cristo subsiste na Igreja Católica como numa sociedade organizada – o que não exclui que ela possa subsistir alhures sob forma menos organizada, ou mesmo sem organização particular.


Passou-se, pois, da afirmação de uma identidade à de uma inclusão; e de uma inclusão que não é única, ainda que seja principal. Isso é uma notável regressão e abolição na significação: o que tem real valor de negação na fé.


O Vaticano II não se contenta, pois, de insinuar, mas admite e ensina que não há identidade perfeita entre o Corpo Místico de Jesus Cristo e a Igreja Católica, e que esta não goza senão de um modo de subsistência na Igreja de Jesus Cristo; esse modo a faz subsistir como sociedade organizada e principal. A partir daí, as outras “confissões religiosas” podem ser meios de salvação e instrumentos do Espírito Santo.


Esse subsistit in substitui [não substitui coisa nenhuma!] o est da tradição católica desde São Paulo. Lá onde a fé divina nos diz: “a Igreja de Jesus Cristo é a Igreja Católica”, o Vaticano II derrapa: “a Igreja de Jesus Cristo subsiste na Igreja Católica como sociedade constituída e organizada…”, abrindo a porta para uma concepção da Igreja de Jesus Cristo em círculos concêntricos, de que a Igreja Católica não é senão o centro organizado e exemplar.


A infernal sedução – e o vício – dessa nova concepção é atribuir ao mérito e à eficácia das comunidades separadas (invenções do diabo) aquilo que diz respeito à misericórdia que o Espírito Santo opera no segredo das almas. Ora, para essa obra do Espírito Santo, a comunidade herética ou cismática, enquanto tal, é um execrável obstáculo: ela não passa de um instrumento do demônio para saciar seu ódio de Deus.


6. As consequências desse ensinamento


Todo o ecumenismo corruptor da fé e negador da unidade da Igreja deriva desse falso princípio, que é a “luz” da obra de João Paulo II, obra que ele continuou até o fim. Assim, na carta dele endereçada em 11 de fevereiro de 2005 a Mons. Ricard, João Paulo II põe inclusive no mesmo plano, face ao laicismo, as diferentes “confissões religiosas”.


Com efeito, se as diversas “confissões religiosas” são instrumentos do Espírito Santo, elas são profundamente estimáveis. João Paulo II não cessou de ensinar essa estima (por exemplo Catecismo da Igreja Católica, nn. 246-248 & 838-841.) e de manifestá-la: quem não se recorda do beijo no Corão? Bento XVI faz igual, na esteira daquele, sem nada retratar do Vaticano II, sem nada corrigir do escândalo dado ao povo cristão e ao mundo inteiro.


Mas essa estima é blasfemadora. As pseudo-Igrejas separadas da Igreja Católica são obras demoníacas para desviar os homens da Verdade revelada, da Salvação eterna e da Glória de Deus.

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