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Três razões pelas quais o molinismo está errado

Por Pe. Garrigou-Lagrange, O.P.

Extraído da obra Deus: Sua Existência e Sua Natureza (Vol. 2, Anexo IV, pág. 465)



A nossa crítica ao Molinismo foi apenas um resumo daquela feita pelos teólogos da Escola Tomista. Pode-se afirmar brevemente o seguinte: A scientia media concebida por Molina, segundo a qual Deus conhece infalivelmente, antes de qualquer decreto divino determinante de Sua parte, os atos livres condicionais do futuro, (1) leva à admissão de uma exceção ao princípio da causalidade e à causalidade universal do agente primário; o ser ou a determinação desses atos livres do futuro não viria então de Deus, o primeiro ser; (2) leva à conclusão de que o conhecimento divino é passivo em relação a esses atos livres condicionais do futuro, que determinam esse conhecimento em vez de serem determinados por ele. A scientia media, postulando assim uma passividade no Ato puro, não pode ser uma perfeição pura; é uma noção que atribui a Deus uma imperfeição humana; (3) por último, esta teoria, concebida para salvaguardar a liberdade humana, deve logicamente terminar no determinismo das circunstâncias; antes de qualquer decreto divino, Deus pode prever infalivelmente qual seria a escolha de Pedro se colocada em determinadas circunstâncias, apenas se essas circunstâncias determinarem a escolha.

Deus: Sua Existência e Sua Natureza (Vol. 2, Anexo IV, pág. 465)


 

Vamos expor silogisticamente o raciocínio de Garrigou, para o entendimento dos mais simples. Estruturarei cada uma de suas três críticas (conforme numeradas na obra original) como uma reductio ad absurdum, utilizando o seguinte formato:


P1: "A" ou "b".

P2: Se "b", então "c".

P3: Se "c", então "d".

P4: Mas "d" é falso.

Conclusão: Portanto, "b" é falso e "a" é verdadeiro.


PRIMEIRO ARGUMENTO:

Premissa 1: Ou (a) Deus é a causa primária de nossas ações livres (posição tomista), ou (b) ele não é a causa primária de nossas ações livres (posição molinista).

Premissa 2: Se (b) Deus não é a causa primária de nossas ações livres, então (c) essas ações são causadas independentemente dele.

Premissa 3: Se (c) essas ações livres são causadas independentemente dele, então (d) Deus não é a causa primária universal de todas as coisas.

Premissa 4: Mas Deus é a causa primária universal de todas as coisas (logo "d" é falso).

Conclusão: Portanto, Deus é a causa primária universal de nossas ações livres ("b" é falso; "a" é verdadeiro).


SEGUNDO ARGUMENTO:

Premissa 1: Ou (a) o conhecimento de Deus sobre nossas ações livres determina causalmente nossas ações livres (posição tomista), ou (b) o conhecimento de Deus sobre nossas ações livres é causalmente determinado por nossas ações livres (posição molinista).

Premissa 2: Se (b) o conhecimento de Deus sobre nossas ações livres é causalmente determinado por nossas ações livres, então (c) Deus é passivo em relação a essas ações.

Premissa 3: Se (c) Deus é passivo (ou potencial) com respeito a essas ações, então (d) Ele não é Ato puro, Ipsum Esse, a Causa Não Causada, o Motor Imóvel.

Premissa 4: Mas Deus é Ato Puro, Ipsum Esse, a Causa Não Causada, o Motor Imóvel (logo "d" é falso).

Conclusão: Portanto, o conhecimento de Deus sobre nossas ações livres determina causalmente nossas ações livres ("b" é falso; "a" é verdadeiro).


TERCEIRO ARGUMENTO:

Premissa 1: Deus conhece infalivelmente as escolhas livres futuras (a) porque Ele as decreta infalivelmente desde toda a eternidade (posição tomista), ou (b) porque, sem decretá-las, Ele pode prever (através da chamada scientia media de Molina) o que acontecerá em qualquer circunstância (posição Molinista).

Premissa 2: Se (b) porque, sem decretá-los, Ele pode prever o que acontecerá em qualquer circunstância, então (c) os atos humanos são infalivelmente determinados por suas circunstâncias; isto é, dado um determinado conjunto de circunstâncias, um ser humano só pode agir de uma determinada maneira (não é livre para fazer escolhas diferentes).

Premissa 3: Se (c) os atos humanos são infalivelmente determinados pelas suas circunstâncias; isto é, dado um determinado conjunto de circunstâncias, um ser humano só pode agir de uma determinada maneira (não é livre para fazer escolhas diferentes), então (d) não há liberdade da vontade, mas sim um tipo de fatalismo circunstancial ( ou "determinismo das circunstâncias").

Premissa 4: Mas existe liberdade da vontade (logo "d" é falso).

Conclusão: Portanto, Deus conhece infalivelmente as futuras escolhas livres porque Ele as decreta infalivelmente desde toda a eternidade ("a" é verdadeiro; "b" é falso).

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