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Ajoelhando para os judeus


Por S.E.R. Dom Donald J. Sanborn



Bento XVI substitui a oração da Sexta Feira Santa para os judeus no Missal de 1962

Em Julho de 2007, Ratzinger autorizou o uso irrestrito da forma modificada da Missa tradicional contida no Missal de 1962 de João XXIII. Uma das reações negativas mais vocais à sua sua iniciativa veio dos judeus, que objetaram à oração por sua conversão prescrita pelo Missal para a liturgia da Sexta Feira Santa. Na Quarta Feira de Cinzas de 2008, em resposta à agressiva campanha de vários grupos judaicos, Ratzinger enfim substituiu tal oração por um texto inteiramente novo. Esta foi a quarta mudança feita em relação à oração pela conversão dos judeus. A versão tradicional é extremamente antiga (um dos textos mais antigos no Missal), e era utilizada na Missa dos Pré-santificados na Sexta Feira Santa:

Oremos também pelos pérfidos judeus, para que Deus, Nosso Senhor, tire de seus corações o véu da cegueira, a fim de chegarem ao conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Onipotente e eterno Deus, que em Vossa misericórdia, não repelis nem mesmo a perfídia dos judeus, ouvi as preces que Vos fazemos pela cegueira desse povo, para que reconhecendo ele a Luz de Vossa Verdade, que é o Cristo, seja livre de suas trevas. Pelo mesmo Jesus Cristo, que vive e reina conVosco na unidade do Espírito Santo, Deus, pelos séculos dos séculos, Amém.

A referência ao véu em seus corações vem diretamente de São Paulo (II Cor. III: 13-16): E não como Moisés, que punha um véu sobre o seu rosto, para que os filhos de Israel não fixassem a vista no fim do que era passageiro. Mas os seus espíritos endureceram-se. Porque até ao dia de hoje permanece na leitura do Antigo Testamento o mesmo véu sem se levantar (porque é por Cristo que ele se tira). Mas, ainda hoje, quando leem Moisés, o véu está posto sobre o seu coração. Mas, quando “Israel” se converter ao Senhor, será tirado o véu.

Deve-se também notar que no rito tradicional o sacerdote e a congregação não genuflectem após o sacerdote dizer Oremus, isto é, “oremos”. A razão é que a Igreja considerava impróprio usar, no ponto em que referencia a infidelidade dos judeus, o mesmo gesto – a genuflexão – que os soldados judeus fizeram para zombar de Jesus Cristo. O mesmo princípio se aplica no Sábado Santo quando não há flectamus genua (ajoelhemos) após a décima segunda profecia na qual se comemora a recusa de três jovens de se ajoelharem, em ato de idolatria, à estátua de Nabucodonosor.

Mudanças na Oração

(1) 1955: A genuflexão é introduzida.


Em 1955, houve uma grande revisão dos Ritos da Semana Santa, idealizada e projetada por nenhum outro que o autor da Missa Nova, Annibale Bugnini. Entre outras coisas, a genuflexão foi inserida na oração pela conversão dos judeus. Isto foi provavelmente a primeira vez, em toda a História da Igreja, que um rito foi influenciado por “sensibilidade” a não católicos.

(2) 1959: A palavra “Pérfidos” é removida.


Em 1959, a palavra pérfidos foi removida da oração por João XXIII. No Latim a palavra é perfidis, que é transliterada, porém não traduzida, para pérfidos. Enfatizo o fato que ela é meramente transliterada, o que quer dizer que ela apenas é muito similar ao Inglês perfidious(pérfidos), mas que no Latim não possui o mesmo significado que no Inglês moderno. O Papa Pio XII foi exortado por Eugenio Maria Zolli, antes chamado Israel Zolli e Rabino Chefe de Roma, antes de se converter ao Catolicismo em 1945, a remover a palavra “perfidis” da oração da Sexta Feira Santa pelos judeus.

Por algum tempo o ex-Rabino Chefe e o Papa reinante discutiram em privado. Mais tarde, Zolli reportou a Dezza (o padre, e depois Cardeal, que batizou Zolli) que ele requisitou do pontífice remover da Solenidade de Sexta Feira Santa as referencias aos “pérfidos judeus,” e Pio XII recusou-se a fazê-lo e explicou a Zolli que o adjetivo “pérfido”, que ordinariamente é definido como “deliberadamente sem Fé” ou “traidor”, ou ainda “enganador” de fato quer dizer “incrédulo” no contexto das orações Católicas 1.

Esta é a oração de João XXIII, contida no Missal de 1962:

Oremos pelos judeus: Que Deus Nosso Senhor Ilumine seus corações para que reconheçam Jesus Cristo, Salvador de todos os homens. Oremos, Ajoelhai-vos. Levantai-vos. Deus onipotente e eterno, Vós que quereis que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade, concedei que, entrando a plenitude dos povos em Vossa Igreja, todo Israel seja salvo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo Deus, conVosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

(3) 1970: "Conversão” se vai.


Em 1970, Paulo VI aboliu inteiramente a oração tradicional, e à substituiu por esta outra, que figura no Missal Novus Ordo de 1970:

Oremos pelos judeus, aos quais o Senhor nosso Deus falou em primeiro lugar, a fim de que cresçam na fidelidade de Sua aliança e no amor do seu Nome. Reza-se em silêncio.

Depois o sacerdote diz:

Deus eterno e todo poderoso, que fizestes vossas promessas a Abraão e seus descendentes, escutai as preces da vossa Igreja que o povo da primitiva aliança mereça alcançar a plenitude da vossa redenção por Cristo Nosso Senhor. Amém.

Se deve notar que no Missal de 1970 todas as referências à conversão dos judeus foram removidas. A oração declara claramente que eles podem alcançar a “plenitude da redenção” ao meramente continuar “a crescer no amor do Seu Nome e na fidelidade à Sua aliança”. Destarte, apesar do fato deles negarem a Cristo, eles são descritos como se amassem o Nome de Deus e como sendo fiéis à Sua aliança. Tais declarações abertamente contradizem os Santos Evangelhos e as epístolas de São Paulo. De fato é pura blasfêmia.

(4) 2008: Uma criação bizarra.


Em Julho de 2007, Ratzinger publicou um documento, um Motu Proprio, intitulado Summorum Pontificum, no qual ele liberalmente permitiu o uso do Missal de 1962, que é substancialmente, apesar de longe de perfeito, a Missa Tradicional. Os ritos da Semana Santa nele contidos, porém, não são de modo algum tradicionais, mas sim obra do modernista e famigerado franco-maçom Bugnini.

Logo após esta muito esperada e dramática permissão do uso do Missal de 1962, a Liga Anti-Difamação (Anti-Defamation League, ADL), o grupo de supervisão judaico que denuncia tudo que interpreta como sendo anti-judaico, se referiu à permissão do uso do Missal de 1962 como um golpe mortal às relações Católico-Judaicas.

Movido por tal acusação, Ratzinger recentemente alterou a oração contida no Missal de 1962, que agora se lê:

Oremos também pelos judeus: para que Nosso Deus e Senhor ilumine seus corações, para que reconheçam que Jesus Cristo é o Salvador de todos os homens. Oremos. Ajoelhai-vos. Levantai-vos. Deus todo poderoso e eterno, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao reconhecimento da Verdade, conceda, propiciosamente, que mesmo quando a plenitude dos povos entre em Tua Igreja, todo Israel seja salvo. Por Cristo Nosso Senhor. Amém

Antes que digamos qualquer coisa, deve ser asseverado que esta oração merece o prêmio de oração mais bizarra que já foi concatenada por alguém.


Pela admissão dos habitantes modernistas do Vaticano, a oração é uma referência a Romanos XI: 25-26: “Porque eu não quero, irmãos, que vós ignoreis este mistério (para que não vos julgueis sábios dentro de vós mesmos), (isto é) que uma parte de Israel caiu na cegueira até que tenha entrado (na Igreja) a plenitude dos gentios, e assim todo o Israel se salve, como está escrito: virá de Sião o libertador, e afastará a impiedade de Jacó”.

São Paulo sobre os judeus


São Paulo salva a oração de Ratzinger? Não. Uma vez que a oração de Ratzinger não menciona a necessidade de que os judeus abandonem sua incredulidade (perfidia), suas trevas, sua cegueira, e o véu sobre seus olhos. São Paulo também diz todas as coisas a seguir.

  • Em Gálatas V:4 ele diz que os judeus caíram da Graça: “Não tendes nada de comum com Cristo, vós, que procurais a justificação na Lei; decaístes da Graça”.

  • Em Romanos IX: 32-33, ele diz que eles caíram por sua rejeição de Cristo: “Porque tropeçaram na pedra de tropeço, e uma pedra de escândalo; e todo aquele que crê nela, não será confundido”.

  • Em Romanos XI: 7-8, São Paulo diz que os judeus foram cegados, e possuem um espírito de insensibilidade: “Que (diremos), pois? (Diremos) que Israel não conseguiu o que buscava; mas conseguiram-no os escolhidos (por Deus), enquanto que os outros foram obcecados (por sua malícia), como está escrito: Deus deu-lhes um espírito de torpor; olhos para que não vejam, e ouvidos para que não ouçam, até o dia de hoje”.

  • Em Romanos XI: 26-30, São Paulo diz que o cumprimento de Sua aliança com os judeus será a remoção de sua iniquidade, que é seu pecado, e que são inimigos do Evangelho, e que são culpados de incredulidade: “Virá de Sião o libertador, e afastará a impiedade de Jacó. E terão de mim esta aliança, quando eu tirar os seus pecados. É verdade que, quanto ao Evangelho, eles agora são inimigos (de Deus) por causa de vós; mas, quanto à escolha divina, eles são muito queridos por causa de seus pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. Porque, assim como também vós outrora não crestes em Deus, e agora alcançastes misericórdia pela incredulidade deles”.

  • Em II Coríntios III: 13-15, São Paulo diz que há um véu no coração dos judeus, e que o Velho Testamento está ab-rogado: “E não como Moisés, que punha um véu sobre o seu rosto, para que os filhos de Israel não fixassem sua vista no fim do que era passageiro. Mas os seus espíritos endureceram-se. Porque até no dia de hoje permanece na leitura do Antigo Testamento o mesmo véu sem se levantar (porque é por Cristo que ele se tira). Mas ainda hoje, quando leem Moisés, o véu está posto sobre o seu coração”.

De acordo com o raciocínio que anima a mudança na oração de Sexta Feira Santa, seria necessário que se arrancassem essas páginas dos escritos de São Paulo.

De fato está claro que não há nada que estivesse na solenidade da Sexta Feira Santa que antes já não estivesse nos escritos de São Paulo. Ratzinger não pode citar a autoridade de São Paulo para substanciar sua oração, porém ao mesmo tempo repudiar o que o Apóstolo disse nestas passagens. Realmente, sua referência a São Paulo convida o leitor a buscar por tais textos, e então se deparar com passagens que a ADL teria por disparates. Jamais se deve esquecer que São Paulo era ele mesmo judeu, tendo sido inclusive um Fariseu.

Judeus vivendo no Fim dos Tempos?

O quadro pintado pela oração de Ratzinger representa um de todos os povos – compreende somente os Gentios, pois este é o sentido de sua oração no original em Latim – vindo à Igreja (Frankenigreja, a Igreja Única e Ecumênica Mundial) e ao mesmo tempo a salvação de todo Israel. Ela infere que a Igreja somente é necessária para os Gentios, uma vez que os judeus têm sua própria aliança com Deus, a qual os dá a salvação. Por que, por exemplo, não há referência à perfídiados judeus que São Paulo menciona na mesma passagem da qual a oração é tirada? Só se pode imaginar como tal oração teria soado se escrita por São Paulo.

A seção da Epístola aos Romanos a que se refere a oração de Ratzinger concerne o retorno dos judeus como um todo (mas não de absolutamente todos) para a Igreja Católica no fim dos tempos. Enfim, ela se refere a um ponto específico na História no qual os judeus que estiverem então vivos se converterão em massa ao Catolicismo. Um número de exegetas especula que isto coincidirá com de algum modo com a perda da Fé por parte dos Gentios, nos tempos da Grande Apostasia da Fé. Isto parece ser o ponto de vista de São Paulo, se for lido na íntegra o décimo primeiro capítulo de sua Epístola aos Romanos, e então comparado com II Tessalonicenses, aonde ele discorre acerca da Grande Apostasia. Em outras palavras, parece ser apropriado dizer que os judeus obterão a Fé quando os Gentios à perderem, assim como os Gentios obtiveram a Fé ao mesmo tempo em que os judeus à rejeitaram.

Ademais, São Paulo não prevê uma adesão geral à Igreja Católica no fim dos tempos. De fato, ele prevê o oposto, assim como Nosso Senhor também o disse. A visão de que a Igreja será reduzida a um pequeno número é aceita por muitos comentadores. A referência de São Paulo à entrada dos Gentios na Igreja se refere ao fato de que o Evangelho terá sido pregado a todos os povos, e que ao menos alguns de cada povo da Terra terão abraçado o Catolicismo, e dessa forma, se restringe a apenas alguns judeus em algum tempo específico do futuro. Não é uma oração pela conversão de todos os pérfidos judeus que estão vivos agora.

O “Cardeal” Kasper, ultra-arqui-modernista no Vaticano responsável pelas relações com os judeus, confirmou este fato. “...a oração concerne uma invocação que deve ser compreendida segundo a fonte das palavras usadas em sua formulação: ela é um texto de São Paulo Apóstolo e exprime uma esperança escatológica – isto é, se refere aos últimos tempos, ao fim da História – que o povo de Israel entre na Igreja quando todos os demais povos nela entrarem. Quero dizer que ela expressa uma esperança final e não uma intenção de convertê-los”.

Realmente não se trata de uma oração para a conversão de quaisquer judeus, uma vez que não faz menção ao abandono de sua perfídia e de seu ingresso na Igreja. Não se deve esquecer que na teologia Novus Ordo os judeus possuem sua própria aliança com Deus, que ainda é válida apesar de sua rejeição de Cristo, aliança tal que os trará a salvação. Então uma oração pela conversão dos judeus, pó exemplo, para os que estão vivos agora no mundo, é incompatível com o que a teologia Novus Ordo expressa sobre eles. Apesar deste fato, a oração de Ratzinger ainda se intitula Para a Conversão dos Judeus, tal qual se intitulava no Missal de 1962. Estranhamente, ela ainda roga pela “iluminação” de seus corações, obviamente inferindo que os judeus têm corações obnubilados.

Insulto à Religião Judaica?

Ratzinger tentou agradar ambos os lados, tradicionalistas e judeus, e seus esforços foram duplamente malogrados. Ele lançou um osso aos tradicionalistas ao reter o título clamando pela conversão dos judeus, o que por sua vez desagradou aos judeus, e ele lançou a eles um enorme osso ao remover a referência ao véu sobre seus corações, o qual é referido, como vimos, por São Paulo. Porém isto não foi suficiente para os judeus, uma vez que eles consideram o chamado à conversão um insulto à sua religião.

E de fato é. Mas sua religião é falsa, e é dever da Igreja Católica insultar as falsas religiões. Nosso Senhor disse: “Nasci, e vim ao mundo para dar testemunho da verdade; todo o que está pela verdade ouve minha voz” (João XVIII: 37). Pois a falsidade, seja qual for sua forma, é produto do Diabo, uma vez que nasce da ignorância e do orgulho, ambos efeitos do pecado original.

Que necessidade teríamos nós da Igreja Católica se ela não distinguisse para o mundo inteiro qual é a religião verdadeira, e quais são as falsas? Qual necessidade teríamos nós da Igreja Católica se ela não cumprisse o mandamento de Cristo de pregar o Evangelho a todos os povos, incluindo os judeus, com a intenção de converte-los? Nosso Senhor disse aos Apóstolos*: “Ide por todo mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. O que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado”.* (Marcos XVI: 15-16). Esta é uma ordem inequívoca de Deus para converter o mundo inteiro ao Catolicismo. Que necessidade temos nós de uma Igreja que não é fiel aos mandamentos de seu Divino Fundador?

Porém os judeus, agressivos como sempre, insistem que a Igreja Católica abandone os mandamentos de seu Divino Fundador, a quem eles consideram ser um falso profeta. Eles não serão aplacados até que a ideia de conversão seja banida, e até haver uma oração seja promulgada proclamando sua aliança independente e eterna com Deus, permitindo que eles ignorem Cristo e Sua Igreja.

Ratzinger, ao modificar a oração da Sexta Feira Santa, fez essencialmente o mesmo que Pôncio Pilatos na Sexta Feira Santa: para apaziguar a multidão dos judeus clamando pela morte de Cristo, O açoitou e O coroou de espinhos, na esperança de que tal meia medida teria efeito pleno de satisfazer o populacho que demandava morte. Mas tudo o que ele recebeu em troca por sua medida covarde e vil foram ainda mais altos clamores de “Crucifica-O! Crucifica-O”! Ele também logrou um lugar permanente de vergonha no Credo Apostólico.

A Assembleia Rabínica da Itália, no dia seguinte à publicação da nova oração, suspendeu seu diálogo com Ratzinger, declarando que a modificação da oração foi “um abandono das condições fundamentais ao diálogo”. Outros grupos judaicos também organizaram protestos. O jornal USA Today reportou:

“Estamos desapontados. Estávamos esperando uma linguagem que daria espaço para integridade da fé judaica em seu próprio direito. Obviamente, Bento não é capaz e fazê-lo em razão de seu próprio ponto de vista teológico – diferentemente de seus predecessores,” disse o Rabino David Rosen, diretor de assuntos inter-religiosos do Comitê Judaico Americano e cabeça do Comitê Judaico Internacional sobre Consultas Inter-Religiosas, envolvido em diálogo corrente com o Vaticano.

“Quanto mais pareceres positivos e construtivos da Igreja que lograrmos em relação à validade do Judaísmo, melhor conseguiremos contra-agir tal linguagem exclusivista”, disse Rosen.

Abraham Foxman, diretor nacional da Liga Anti-Difamação sediada em Nova York, disse que estava “profundamente atribulado” que a intenção de peticionar a Deus para que os judeus aceitem Jesus Cristo como Senhor foi mantida intacta [2].

A Fraternidade São Pio X

A Fraternidade São Pio X também está atribulada. O Pe. Peter R. Scott disse: “Esta oração consequentemente favorece o ecumenismo, e é inaceitável para os católicos tradicionais, e não será utilizada. Católicos tradicionais não aceitarão que o Missal Tradicional seja modificado, e que Bento XVI suceda em seu plano de trazer uma influência da ‘forma ordinária’, modificando a ‘forma extraordinária’ do rito Romano, em sua nomenclatura. Assim como padres tradicionalistas retêm as palavras ‘pérfidos’ e ‘infidelidade’ que João XXIII tentou eliminar, eles também manterão a oração pela conversão dos judeus” [3].

Se o Pe. Scott está de acordo com a liderança da FSSPX, quer dizer que a organização retrocedeu ao menos trinta anos em suas negociações com os modernistas. Outros na FSSPX, porém, expressaram um parecer favorável sobre a oração, o que indica uma divisão em seu grupo. Mas isto sempre foi o caso. Em relação a isto, S.E.R. Bernard Fellay permanece em silencio. De fato, ele está na crista do dilema. Se ele rejeita a oração, ele será acusado de desobedecer o “Santo Padre”, e será excluído de futuras negociações com o Vaticano que buscam a reabsorção da FSSPX pela religião modernista. Se ele aceita a oração, ele alienará a ala conservadora de seu grupo, e também concederá o princípio de que a Missa Tradicional está sujeita a futuras mudanças.

Deve-se lembrar que o que ocasionou nossa cisão da FSSPX em 1983 foi o Missal de João XXIII, de 1962. A razão pela qual o Arcebispo Lefebvre insistiu que todos nós adotássemos este missal, revertendo seu posicionamento anterior de permissão do uso das rubricas anteriores a 1955, foi que ele estava no curso de negociações sérias com Ratzinger a fim de que sua Fraternidade Sacerdotal fosse absorvida pela religião modernista. Ele me disse pessoalmente que o Vaticano jamais aceitaria que utilizássemos as rubricas anteriores a 1955, e eu mesmo vi os documentos constantes do diálogo entre ele e Ratzinger, nos quais o Missal de 1962 era oferecido como o que seria aprovado para o uso da FSSPX.

Porém a música cessou nesta dança de trinta anos com os modernistas. Agora o Missal de 1962 já não está mais em vigor, mas sim o Missal de 2008, que o substituiu. Alguém corretamente apontou que o Missal de 1962 vigorou apenas por um breve intervalo de dois anos durante a década de 1960, tendo sido substituído nas reformas de 1964, e depois vigorou por mais uns cinco meses entre 2007 e 2008, apenas para agora ser substituído pelo Missal Judaico.

Então aonde a FSSPX poderá ir agora? Ratzinger não pode voltar à oração de 1962. Se a FSSPX não aceitar a nova oração, ela terá de permanecer tal como está, numa terra de ninguém de absurdismo teológico, na qual eles estão “com o Papa”, mas em que o Papa não está com eles. Realmente, penso que de qualquer modo eles querem estar em tal situação. Creio que eles veem a nova oração em meio a um suspiro de alívio, já que ela dá a eles a perfeita desculpa para recusar o convite de Ratzinger para a reconciliação.

A Sabedoria em Resistir em 1983

Em 1983, quando nove sacerdotes se mantiveram firmes em sua resolução de manter as rubricas do Missal de São Pio X, bem como do calendário litúrgico e do breviário, poucos leigos compreenderam a importância de sua posição. O leigo médio é incapaz de perceber as diferenças entre a Missa de 1962 e a Missa anterior a 1955, que nós rezamos. Mas há uma diferença considerável.

A Liturgia diz muito através de gestos e simbolismos. Então o que parece ser um pequeno gesto ou uma só palavra pode ter um tremendo peso simbólico. É pecado mortal, por exemplo, deliberadamente omitir a gota de água no cálice durante o Ofertório, ou rezar a missa sem ao menos duas velas acesas. O leigo pode pensar que se trata de trivialidades, mas o sacerdote compreende a importância litúrgica.


Uma vez que se admite a omissão de um destes atos simbólicos, ou de uma palavra importante, se abre a senda para tudo quanto a mudança implica. Ao adicionar a genuflexão à oração pela conversão dos judeus, por exemplo, a porta foi aberta para mudanças na liturgia católica em favor de quem quer que se sinta ofendido por ela. De fato, o que poderíamos dizer de todo o Evangelho de São João, que os judeus consideram anti-semita. Deverá também ser lavado e alvejado de acordo com os padrões impostos pela ADL?

Nosso doloroso posicionamento em 1983 foi então necessário para manter todos as mudanças de 1955 arquitetadas por Bugnini fora da sagrada liturgia, mudanças estas que levaram logicamente ao Novus Ordo de 1969, do mesmo autor. A FSSPX se encontra em um dilema na atualidade pela exata razão de terem aceito, no Missal de 1962, as primeiras reformas litúrgicas de Bugnini. Como podem dizer então agora “não” ao velho modernista, quando ele requer uma concessão aos judeus, uma vez que a FSSPX já aceitou a concessão de João XXIII aos judeus no Missal de 1962?

Aonde isto vai parar?

Mais uma consideração sobre a oração ratzingeriana: Aonde isso vai parar? Se as orações da Missa Católica serão alteradas de acordo com cada falsa religião que as considera ofensivas, o que restará da Missa Católica? E as referências sobre “esmagar os inimigos da Igreja”, uma óbvia referência a Protestantes e Muçulmanos, na Collecta de São Pio V? Ou então a oração na Missa para a propagação da Fé, na qual se reza para que todos os povos reconheçam Jesus Cristo como Filho de Deus? Não seria isto ofensivo aos judeus? Se o apaziguamento de Ratzinger aos judeus e outros não católicos for levado à sua conclusão lógica, a liturgia católica poderia ser comparada a uma carcaça de um búfalo africano sendo devorada por um bando de hienas.

Já foi tentado antes...

Este exato ponto já foi percebido em 1928. Havia um grande grupo de clérigos denominado Amici Israel, (Amigos de Israel) na década de 1920 que já clamava pela remoção da palavra perfidis da oração da Sexta Feira Santa. Este grupo, composto por não menos que 2000 sacerdotes, 328 bispos, e 19 cardeais, entre eles o famoso Cardeal de Munique, Michael Von Faulhaber. O grupo foi formado em Roma em 1926. Seu propósito era o aprofundamento da reconciliação entre cristãos e judeus. Não se deve esquecer que a década de 1920 foi um período de grande atividade ecumênica. Ele se deparou com uma forçosa condenação pelo Papa Pio XI em 1928, em sua encíclica Mortalium Animos, que condenou o movimento em seus princípios e raízes.

Os Amici Israel pediram em 1928 a Pio XI que a palavra perfidis fosse removida da oração pela conversão dos judeusna Sexta Feira Santa. Pio XI remeteu a questão à Sagrada Congregação dos Ritos. Um de seus consultores, o notório Beneditino de nome Ildephonsus Schuster, mais tarde Cardeal-Arcebispo de Milão, clamou pela mudança, dizendo que a palavra perfidis havia mudado de sentido na linguagem moderna. Ele argumentou que tal palavra seria facilmente entendida como “pérfido” no sentido moderno, que quer dizer “Ímpio”, “iníquo”. Nisto ele estava perfeitamente correto, pois o termo “pérfido” significa, em quase todas as línguas modernas, algo diferente do Latim perfidus, especialmente como é usado no contexto da oração da Igreja de Sexta Feira Santa.


Como vimos acima, a perfídia judaica, na visão da Igreja, é o termo adequado para sua forma de infidelidade. Eles não podem ser chamados de hereges, uma vez que não são batizados. Porém são distintos de outros infiéis, por exemplo, muçulmanos, budistas, etc. que nunca receberam a revelação.

Então o termo perfídia é designado à sua infidelidade, significando que eles são infiéis à sua própria Lei e aliança por não aceitarem o Messias verdadeiro. A relação entre os judeus e Deus é uma de convênio ou aliança. No Latim, a palavra perfidus é usada para designar alguém que é infiel a um acordo ou contrato.

O leitor faria bem ao consultar Levítico XXVI: 14-15 para entender a ira de Deus sobre os judeus, caso eles quebrassem a aliança e a Lei. É o ensinamento da Igreja Católica que a Lei e a aliança foram cumpridas por Cristo, e em Sua Igreja, a Igreja Católica Romana. A prolongação do Judaísmo, que é a rejeição de Cristo como verdadeiro Messias, consiste em uma infidelidade a Deus como a outra parte no contrato sagrado e solene da aliança, o que foi ratificado pela Lei Mosaica.

Rejeitada por Pio XI

A Sagrada Congregação dos Ritos aprovou em 1928 a reforma proposta, isto é, remover a palavra perfidis da oração pela conversão dos judeus. A questão foi então remetida para o Santo Ofício.

O teólogo da Curia Papal, Marco Sales O.P., respondeu que a oração era tão antiga que não deveria ser mudada. Disse ele também que é um poço sem fundo, e que uma vez feita a mudança, muitas outras seguiriam se valendo do mesmo princípio.

Porém o Cardeal Merry del Val, a quem São Pio X considerava um santo vivo, que era então Secretário do Santo Ofício, respondeu com ainda maior negatividade. Disse ele que o que os Amici Israel desejavam não era mais a conversão dos judeus, mas a translação dos judeus do Reino do Pai ao Reino do Filho. Em outras palavras, em tal esquema, não seria necessário que os judeus repudiassem o judaísmo para serem considerados cristãos. O Cardeal disse que tal posição era inaceitável. Ele declarou que a oração pelos judeus na Missa dos Pressantificados era venerável por sua antiguidade, e que era algo que não podia ser reformado.

O Cardeal disse ainda que a palavra perfidus no antigo rito expressa a “aversão pela rebelião e traição” dos judeus. O parecer do Santo Ofício foi: nihil est innovandum – nada deve ser mudado.

O decreto que suprimiu os Amici Israel sancionava que o judaísmo era “o guardião das divinas promessas até o advento de Cristo” e que não o é mais desde a vinda de Jesus Cristo. Dizia mais, que os judeus eram “o antigo povo eleito de Deus”. A implicação óbvia é que desde que tal eleição se tornou inválida, assim também se tornou a aliança, na qual a eleição de Deus se manifesta, plenamente revogada e terminada. O Papa PioXI aprovou esta decisão do Santo Ofício, e foi mais longe. Ele requereu que os Amici Israel abandonassem toda a ideia e a organização foi dissolvida.

O gesto de Ratzinger para com os judeus, que saiu pela culatra, é uma indicação da disposição dos modernistas de continuar brincando com a Missa Católica em prol dos interesses do ecumenismo. Se assim é, para que então manter a Missa Tradicional? Como alguns já disseram, essa mudança na oração prova que a Missa Tradicional é incompatível com o Vaticano II.

Será o Breviário o Próximo?

O Motu Proprio de Ratzinger expressamente autoriza o uso do breviário de 1962 de João XXIII. Nele, as referências aos judeus fazem a oração de Sexta Feira Santa parecer contida em comparação.

As leituras de Sexta Feira Santa de Tenebrae, tiradas das palavras de Santo Agostinho, acusam os judeus que crucificaram a Cristo de “malfeitores”, e “obstinados”. O Santo Doutor acusa os judeus de serem culpados pela morte de Cristo, matando-O não com espadas, mas com suas línguas: “Mas ó vós, Seu próprio povo judeu, vós verdadeiramente O matastes. E como vós O matastes? Com a espada de vossa língua. E quando vós O golpeastes, mas quando vós clamastes: Crucifica-O, Crucifica-O?”

Muitas outras partes da Sagrada Escritura e dos comentários dos Padres discorrem negativamente da infidelidade judaica, e da participação dos judeus na morte de Cristo. Aonde terão de ir?

Heinrich Heine, o famoso judeu e figura literária pró-comunista da Alemanha do século XIX disse: “Aonde quer que queimem livros, também irão, no fim, queimar seres humanos”.

Modernismo e Catolicismo Incompatíveis

A mudança feita por Ratzinger quer dizer quer dizer que estamos de volta à década de 1960. Qualquer um que tenha vivido através daquela década se lembrará de ver sua Missa dilacerada, diluída, alterada, etruncada pouco a pouco, mês a mês, ano a ano. Os Tradicionalistas que bradaram pelo Missal de 1962 querem algo que não será mudado.O gesto de Ratzinger para os judeus, porém, estabelece que qualquer coisa no Missal de 1962 – ou breviário – que não seja compatível com o Vaticano II, será amputada.

Este episódio também mostra que o Catolicismo e o ecumenismo, que é o modernismo, são absolutamente antinômicos, e que qualquer tentativa de os justar irá falhar tão miseravelmente quanto a oração falhou. Será que a FSSPX entenderá isso algum dia?

Ademais se deve notar que apesar das belas mitras barrocas de Ratzinger e maravilhosas capas pluviais floridas com bordados feitos à mão – ambas usadas por ele no Natal – ele não retrocedeu nem um único passo do real problema que infecta nossas instituições católicas: o ecumenismo. O velho modernista está tão determinado quanto sempre esteve para impingir o ecumenismo aos católicos, mesmo que tenha de administrar veneno vestido de uma alta mitra barroca e uma capa esplêndida. Ainda assim muitos católicos olham para estas vestes, que não passam de fantasias teatrais se não são as vestes da verdade, e sentem calafrios por causa da ilusão que, com Ratzinger, já está próximo o fim do Vaticano II e do modernismo.

Pompas da Tradição para salvaguardar a Revolução

Os estudantes de História saberão que todos os grandes revolucionários que foram bem sucedidos em implantarem suas revoluções não foram radicais como Robespierre e Júlio César, mas moderados, como Napoleão e Augusto, que cuidadosamente respeitavam as instituições vigentes, bem como as tradições e as pompas, porem astutamente usaram estas mesmas coisas como graxa para facilitar a implementação da substância de suas reformas.

O mesmo pode ser dito de Cromwell, cujo regime radical não durou, mas cujos princípios perduraram, pois foram escondidos sob o manto de uma monarquia na restauração dos Stuart, na pessoa de Carlos II, em 1661. Os puritanos radicais haviam degolado o rei Carlos I em 1649, estabeleceram sua supremacia no Parlamento Inglês e o posto sob seu controle, e então, logo após a morte de Cromwell, em 1658, eles mesmos convidaram um rei, Carlos II, que se tornou o que os monarcas britânicos são desde então: impotentes criaturas do Parlamento, que desfilam fantasiados de quando em quando, ocupando seus dias, na maioria dos casos, com imoralidades e passatempos luxuosos. A revolução se havia estabelecido sob o disfarce das capas barrocas de veludo e das rendas de Carlos II. O que prova este fato foi que quando Jaime II, seu filho, tentou reverter o que os puritanos haviam feito, ele foi expulso do trono no que é dubiamente chamada de “Revolução Gloriosa”, em 1688.

A revolução de Ratzinger foi o Vaticano II. Ele foi um de seus principais arquitetos e mentores. Foi ele sua parteira. Sua revolução agora se encontra em maus lençóis, já que seus efeitos estão sendo sentidos: defecção generalizada da juventude de qualquer religião, a “apostasia silenciosa” da Europa, e o desaparecimento das vocações. Ele está tentando salvar sua revolução pelos métodos clássicos de outros revolucionários. Como a História também mostra, a maioria dos conservadores cai nesta armadilha revolucionária.

Genuflectindo para os Judeus

Todo este monumental fiasco começou em 1955, com um simples gesto ecumênico: a adição da genuflexão na oração pela conversão dos judeus. Apologistas das reformas de 1955 de Bugnini, como por exemplo a FSSPX, argumentam que não se genuflecte para os judeus, mas sim para Deus. Apesar de que se pode argumentar que a genuflexão é para Deus, e não para os judeus, e que não há necessidade intrínseca em deixar fora esta genuflexão, e que não ofende a Fé inseri-la, também se pode argumentar com boa razão que foi a primeira vez que a liturgia católica se submeteu às demandas do ecumenismo. Foi a primeira vez que uma falsa religião conseguiu adentrar no santuário católico. Não seria, a menos simbolicamente, uma genuflexão para os judeus?

A força da Igreja Católica, porém, precisamente que ela não permite que nenhuma consideração temporal afete sua doutrina, sua liturgia, ou suas disciplinas essenciais, seja tal consideração política, falsas religiões, ou guerras. A Igreja navega pelas tempestades humanas e vicissitudes e pensamento e moda como se elas não existissem. O propósito da Igreja Católica é dar testemunho da verdade, do modo como seu Divino Mestre e Fundador disse, prestes a ser crucificado por aqueles que não eram da verdade, nenhuns outros que os judeus no pátio de Pilatos, que gritavam: “Crucifica-O! Crucifica-O”!

Não serve ao testemunho da verdade nem a Caridade que a Igreja se dobre aos judeus, dizendo que sua rejeição de Cristo seja uma religião verdadeira, ou dizer ou meramente inferir que eles não precisam se converter ao Catolicismo Romano para serem salvos. Falhar em desejar tal conversão, não rezar por ela, não obrar por ela, é o maior insulto que podemos lançar contra os judeus, a maior falta de caridade contra eles, bem como uma inflamada blasfêmia contra a divindade messiânica, realeza, e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

1 Robert G. Weisbord e Wallace P. Sillanpoa, The Chief Rabbi, the Pope, and the Holocaust: Na Era in Vatican-Jewish Relations, página 171. 2 6 de Fevereiro de 2008. 3 Quando fomos expulsos da FSSPX em1983, fomos acusados de não sermos obedientes ao Papa, por exemplo, a João XXIII, porque nos recusamos a aceitar seu Missal. Ainda assim o Pe. Scott claramente louva os sacerdotes que rejeitam as mudanças realizadas por João XXIII em 1959. Note o uso da expressão “tentou remover”. Tentou? Se ele era o Santo Padre, então ele de fato removeu tais palavras. Como seu ato poderia ser mera tentativa, a não ser que por alguma razão ele não fosse o Santo Padre? Como os tempos mudam.

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