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A NOVA DOUTRINA DO VATICANO II

Por Padre Michael DeSaye, R.C.I.

Tradução por Abner Benedetto


Este artigo apresenta os erros do Concílio Vaticano II e do falso magistério conciliar, contrastando-os com os ensinamentos infalíveis do magistério da Igreja.


1. O propósito deste artigo.

Este artigo estabelece que o Vaticano II ensina erros contra a fé católica. Uma vez que a santidade e a catolicidade da Igreja a impedem de ensinar quaisquer erros contra a fé ou a moral em nível universal, o Vaticano II não pode ser um ensinamento universal da Igreja Católica.


O que torna um concílio ecumênico universal o ensinamento da Igreja não é o fato de ter sido aprovado por muitos bispos, mas o fato de ter sido promulgado por um Romano Pontífice. Visto que o Vaticano II não pode ser ensinamento universal da Igreja devido ao fato de conter erros contra a fé e a moral, não pode ter sido promulgado por um Romano Pontífice. Portanto, os católicos devem concluir que aqueles que promulgaram o Vaticano II, e continuam a fazê-lo, não podem ser Romanos Pontífices. Na verdade, este é um fato dogmático dedutível pela revelação divina e pela razão.


2. Antecedentes históricos dos erros do Vaticano II — Ideologias predominantes que influenciam o Vaticano II: Protestantismo, Secularismo e Modernismo.


Será útil, antes de iniciar a análise dos erros do Vaticano II, situá-los em seu contexto histórico. Este tópico merece um tratamento mais aprofundado do que um simples artigo pode oferecer; no entanto, um breve esboço de fundo será suficiente para familiarizar o leitor com os principais temas.


Os principais erros do Vaticano II derivam diretamente de correntes intelectuais originárias da Europa Ocidental em três períodos históricos: a Reforma Protestante, o Iluminismo e o movimento Modernista. Descreveremos brevemente as contribuições que cada um desses períodos deu aos erros do Vaticano II.


3. Protestantismo.


Todas as formas de protestantismo são baseadas em um único princípio. Este princípio é: a religião cristã tal como existe atualmente na Igreja Católica não é a verdadeira religião cristã, mas sim uma perversão da religião cristã; portanto, deve ser substancialmente reformada. Está implícito nesta posição que a Igreja Católica é capaz de perder sua própria religião, ou, em outras palavras, é capaz de desertar da religião estabelecida por Cristo. Como resultado dessa deserção, de acordo com a posição protestante, o Cristianismo deve passar por uma reforma substancial em doutrina, culto e governo, de modo que retorne ao status que desfrutava antes da deserção.


O erro fundamental do protestantismo é, portanto, uma rejeição da indefectibilidade da Igreja Católica. No contexto do protestantismo, quem não concorda com a análise de que a Igreja Católica se desviou da verdadeira religião é um inimigo da causa da reforma. Esta é a razão do preconceito de longa data mantido pelos protestantes contra os católicos. É também a razão do preconceito dos católicos liberais de hoje em relação aos católicos tradicionais. Pois os católicos liberais adotam uma visão da Igreja pré-Vaticano II que é idêntica à visão adotada pelos primeiros protestantes; eles veem a Igreja pré-conciliar como uma Igreja defeituosa que deveria ser consertada. E eles veem o Concílio Vaticano II como o evento da reforma.


Este princípio  —  de que a religião cristã como existe na Igreja Católica precisa ser substituída por uma versão reformada do cristianismo  —  foi a justificativa fundamental para o Vaticano II. Sem o princípio protestante de uma Igreja defeituosa que necessita de uma reforma substancial na doutrina, no culto e na lei, o Vaticano II e o Novus Ordo não poderiam ter acontecido. Pois esta reforma de toda a religião católica é precisamente o que o projeto do Vaticano II se esforça para realizar.


4. Secularismo.


O protestantismo forneceu o solo intelectual para o crescimento de dois erros: o absolutismo estatal e o absolutismo individual. Esses erros surgiram durante o chamado período do Iluminismo. A razão é que o protestantismo cria um vácuo de poder ao rejeitar a autoridade absoluta da Igreja. Essa autoridade absoluta deve, portanto, ser preenchida com uma nova autoridade absoluta, pois não existe sociedade humana sem uma autoridade absoluta. Capitalizando sobre o forte preconceito que o protestantismo cria contra o catolicismo, o Estado aproveita a oportunidade para adquirir para si as vastas propriedades materiais, riqueza e influência da Igreja. Mas desde que se separou das leis da Igreja, o Estado se torna cada vez mais inchado, ganancioso, opressivo e geralmente imoral. E recusa-se a ser disciplinado por qualquer autoridade superior, especialmente a autoridade do Romano Pontífice.


Enquanto o Estado fica embriagado de riqueza e poder, os cidadãos de todas as religiões dentro do estado tornam-se mais fracos e pobres. O princípio protestante do absolutismo individual, que contém em si o direito do indivíduo de se revoltar contra toda e qualquer autoridade, é incutido entre o povo desse Estado opressor. Desloca-se facilmente para uma aplicação na esfera política, causando revoluções contra o governo e conflitos dentre os próprios cidadãos.


O que se chama de “secularismo” se caracteriza por essa polarização entre Estado absoluto e indivíduo absoluto. A secularização é o fracasso do Estado em reconhecer a Igreja Católica como o reino de Cristo. Não reconhece autoridade absoluta onde Deus a conferiu, mas estabelece autoridade absoluta onde Deus não a conferiu: no Estado e em cada indivíduo dentro do Estado. O Estado absoluto deseja a estabilidade e, para isso, ameaça privar os cidadãos de direitos. O indivíduo absoluto deseja a liberdade de todas as restrições, incluindo as restrições civis, e assim ele afirma seus direitos contra o Estado, ameaçando periodicamente a guerra civil e a revolução como um freio ao Estado dominante. O secularismo é, portanto, não apenas instável, mas politicamente incoerente, na medida em que admite essas duas autoridades supremas mutuamente exclusivas e irreconciliáveis: o Estado e o indivíduo. É a aplicação do princípio protestante à esfera da política.


Comentando sobre essas tendências, o Padre Denis Fahey escreve:

A Realeza Espiritual de Cristo, participada pelo Papa e pelos Bispos da Igreja Católica, não sendo mais reconhecida, a autoridade sobre os assuntos espirituais passou para os Regentes Temporais… Como não havia Guardião Infalível da ordem acima dos Regentes Temporais, o caminho era pavimentado para os abusos do absolutismo Estatal… O princípio do julgamento privado preparou o caminho para o erro extremo oposto da “santa rebelião” e do “direito” das pessoas de derrubar a autoridade sempre que isso as desagrada. A doutrina de que todos os homens são iguais no Corpo Místico e são seus próprios sacerdotes, semeou as sementes desse espírito, que recebeu um corpo na sociedade maçônica naturalista, quando o avanço do tempo trouxe a decadência da crença na vida sobrenatural. (1)


Os erros do Vaticano II refletem uma aceitação do secularismo. O Vaticano II abraça a liberdade religiosa, que é a autoridade absoluta do indivíduo contra a do Estado em matéria religiosa, na medida em que o indivíduo pode escolher qualquer religião que considere verdadeira. Abrange também o ecumenismo, que é a autoridade do Estado contra o indivíduo em matéria religiosa, na medida em que procura fundir todas as religiões numa única Religião Mundial, sem crenças, sem sacramentos e sem moral. Para conseguir isso, introduz a ideia de comunhão parcial, na qual se diz que as seitas não católicas existem em uma vaga gradação de comunhão com a Igreja Católica: isto é para fomentar a sensação de que a coalescência religiosa já começou. E, finalmente, abraça a doutrina secular da colegialidade, que é a afirmação simultânea do poder absoluto em duas cabeças: tanto no governo (o papa) quanto nos governados (o colégio dos bispos).


5. Modernismo.


O terceiro período histórico que influenciou o Vaticano II é o período modernista. O modernismo é uma heresia que surgiu no final do século XIX como resultado direto do liberalismo secular. Como o protestantismo, sustentava que a religião católica precisava ser substancialmente reformada, já que há muito havia desertado de sua pureza original. Como o secularismo, também sustentava que a autoridade suprema é tanto o estado (ou o “povo”) quanto o indivíduo (ou a “consciência”), e não o Romano Pontífice. Mas a Igreja Católica resistiu com sucesso ao fascínio do secularismo no século XIX, apesar dos muitos sucessos do secularismo na esfera política. Por causa dessa resistência, uma nova ideologia se materializou, destinada a tornar o secularismo atraente para os católicos. Essa ideologia era o modernismo e contribuiu com duas ideias significativas.


Em primeiro lugar, o modernismo afirma que, para se tornar aceitável ao Estado absoluto, a religião católica deve evoluir; se não evoluir, perecerá porque não conseguirá acompanhar o ritmo dos tempos modernos. Essa ideia de “sobrevivência do mais apto” aplicada à religião é tirada diretamente do Darwinismo (2). Também afirma, falsamente, que a Igreja sempre se adaptou às circunstâncias sócio-históricas em evolução, e que essa adaptabilidade é a razão de seu sucesso de dois mil anos. Essas noções de evolução religiosa e adaptabilidade são simplesmente um meio astuto de articular o antigo princípio protestante: que a velha religião cristã agora está obsoleta e deve dar lugar à nova.


Em segundo lugar, o modernismo sustenta que a verdadeira religião cristã não consiste em dogma, culto e governo, mas sim em um impulso interior invisível da mente subconsciente que se expressa externamente de várias maneiras. Quando os impulsos interiores de muitas pessoas produzem coletivamente as mesmas expressões exteriores, a religião evolui. O modernismo sustenta que essa evolução religiosa é um processo natural. Quando a coletividade produz expressões modificadas, é sinal de que é hora da religião mudar e se adaptar. Com o passar do tempo, as doutrinas e os ritos tornam-se obscuros ou irrelevantes. Novas interpretações tomam o lugar de velhas interpretações. Novos significados, novas doutrinas, novos ritos e novas leis emergem constantemente da mente subconsciente coletiva em mudança das pessoas para suplantar os antigos. No modernismo, não existe verdade objetiva ou moralidade objetiva. Tudo flui e muda, e não há estabilidade. No modernismo, a religião católica não é verdadeiramente católica, ou seja, a mesma em todos os tempos, sempre em perfeita continuidade com seu passado na doutrina, na moral e na lei; antes, no modernismo, “católico” significa apenas “universal” no sentido de que o sentido religioso interior é encontrado em todos os homens. Ao fazer da mente subconsciente do homem a base de toda religião, o modernismo expulsa Deus da religião e o substitui por impulsos interiores em evolução. Disso se segue que, no modernismo, a salvação não é obra da misericórdia de Deus para com o homem, mas uma conquista da mente do homem. Como tal, o modernismo é inerentemente naturalista, reduzindo a salvação a algo feito pelo homem. Uma vez que não há critérios para a salvação, exceto na mente da comunidade humana em evolução, e uma vez que esses critérios são inteiramente subjetivos, o modernismo é rápido em abraçar a heresia da salvação universal: todos são salvos. Por esta razão, transforma o céu em uma vida após a morte paganizada. Em vez de apresentar o céu como uma contemplação eterna da visão beatífica de Deus junto com os santos, o céu do Novus Ordo é frequentemente apresentado como pouco diferente desta vida. É comum no contexto do Novus Ordo ouvir sermões fúnebres nos quais a vovó é apresentada jogando nas máquinas caça-níqueis no cassino do céu, e o vovô é apresentado assistindo televisão na sala de estar. Isso é paganismo.


O Vaticano II é modernista em seu ensinamento de que Deus usa religiões não católicas para a salvação e em sua negação de que a Igreja Católica é visível e una. O primeiro erro é baseado na teoria do senso religioso que rejeita todos os padrões de verdade objetiva e bondade na religião. O último erro é baseado na noção de evolução da religião. Pois se a Igreja Católica estivesse em um estado de evolução ao invés de um estado de ser, então ela não seria nem una nem visível.


6. Lista de erros do Vaticano II e declaração de método.


O Vaticano II e seu falso magistério não são meramente ambíguos ou problemáticos, nem representam um mero ambiente de oposição à doutrina. Eles contêm erros claros e certos que foram anteriormente condenados pela Igreja Católica. Bastaria estabelecer o Vaticano II como inválido se contivesse um só erro contra a fé ou a moral. Neste artigo, iremos expor cinco erros:


1) Liberdade Religiosa;

2) Ecumenismo;

3) Salvação por meio de seitas não católicas;

4) Negação da visibilidade e unidade da Igreja;

5) Comunhão parcial.


Esta lista de erros não é de forma alguma exaustiva. Tampouco é exaustiva a lista de citações da Sagrada Escritura e do magistério selecionado que refutam esses erros. O objetivo deste artigo não é listar todos os erros e todas as condenações correspondentes, mas apenas estabelecer o fato de que existem erros nos documentos conciliares.

O erro de colegialidade, acima referenciado, ficará reservado para um artigo futuro, pois requer um tratamento mais substancial do que pode ser dado aqui.


Também demonstramos que há um compromisso com os erros do Vaticano II entre o falso magistério pós-conciliar de Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco. O fato de que há um compromisso consistente com os mesmos erros encontrados em diferentes documentos do Vaticano II, e o fato de que o falso magistério se comprometeu a sustentar esses erros nos últimos sessenta anos, constituem uma evidência irrefutável de que houve, e há, uma intenção objetiva de mudar completamente a substância da doutrina católica. A razão de sua inter-relação é que elas dependem das mesmas correntes inter-relacionadas descritas na seção anterior deste artigo: Protestantismo, Secularismo e Modernismo.


Não é intenção deste artigo especular sobre os motivos internos dos modernistas para promulgar o Vaticano II. Também não é nossa intenção julgar as disposições internas  —  a culpa ou a inocência  —  de João XXIII, Paulo VI, ou qualquer das partes envolvidas no projeto do Vaticano II. No entanto, é preciso mostrar claramente que o modernismo a que esses homens estavam comprometidos visava objetivamente à destruição da Igreja Católica, juntamente com o Romano Pontífice, a fé, a vida moral e os sacramentos. Um erro de ordem especulativa sempre resulta em vícios de ordem moral. É por isso que se deve entender que os erros do Vaticano II não são erros inofensivos pertencentes a idéias abstratas; eles formam os princípios e o fundamento de todo um sistema de atuação que é ordenado à supressão da religião católica. Daí porque São Pio X chamou os modernistas de “os mais perniciosos de todos os adversários da Igreja” (3).


Procedemos através do seguinte método. Primeiro, vamos expor a doutrina católica na forma de uma tese. Em segundo lugar, apoiaremos esta posição com trechos da Sagrada Escritura e do magistério da Igreja. Em terceiro lugar, ofereceremos um argumento a partir do raciocínio teológico. Em quarto lugar, citaremos o erro contra este ensinamento encontrado nos documentos do Vaticano II. Estas citações serão impressas na cor vermelha, a fim de deixar claro ao leitor que são citações do ensino errôneo. Então responderemos a esse erro, apresentando contra-argumentos na forma de objeções, com respostas a estas. Finalmente, ofereceremos uma conclusão resumindo cada erro.


Neste artigo, as traduções da Sagrada Escritura são extraídas da versão de Douay-Rheims [na presente tradução portuguesa deste artigo usaremos a versão do Pe. Matos Soares]. As traduções para o inglês dos documentos magisteriais são retiradas do [site] Papal Encyclicals Online, exceto aquelas que não aparecem no site. As traduções destas últimas são do autor.


Primeiro erro  —  Liberdade Religiosa


7. Tese Católica: O homem não tem o direito de praticar uma falsa religião.


Sagrada Escritura:

Não terás outros deuses diante de mim (4).


Magistério: Papa Pio IX, Quanta Cura (1864): Syllabus dos Erros (1864).

Contra a doutrina da Sagrada Escritura, da Igreja e dos Santos Padres, [alguns] não duvidam em afirmar que “a melhor forma de governo é aquela em que não se reconheça ao poder civil a obrigação de castigar, mediante determinadas penas, os violadores da religião católica, senão quando a paz pública o exija”. E com esta ideia do governo social, absolutamente falsa, não hesitam em consagrar aquela opinião errônea, em extremo perniciosa à Igreja católica e à saúde das almas, chamada por Gregório XVI, Nosso Predecessor, de feliz memória, loucura, i.e., que “a liberdade de consciências e de cultos é um direito próprio de cada homem, que todo Estado bem constituído deve proclamar e garantir como lei fundamental, e que os cidadãos têm direito à plena liberdade de manifestar suas ideias com a máxima publicidade — seja de palavra, seja por escrito, seja de outro modo qualquer -, sem que autoridade civil nem eclesiástica alguma possam reprimir em nenhuma forma”. (5)


Raciocínio teológico: Um direito é um poder legítimo de adquirir algo que é devido de acordo com a justiça. Um direito universal à liberdade religiosa significa que a liberdade religiosa é algo devido a todos os homens de acordo com a justiça e que todos os homens têm o poder legítimo de adquirir a capacidade de praticar a religião. Mas a capacidade de praticar uma falsa religião não é devida a nenhum homem de acordo com a justiça. As falsas religiões são pecaminosas, e o pecado nunca é devido ao homem de acordo com a justiça, nem o homem tem o direito de pecar. Portanto, o homem não tem o direito de praticar uma falsa religião.

Para ilustrar o absurdo da liberdade religiosa, imaginemos Adão e Eva no Éden. Digamos, hipoteticamente, que tivessem direito à liberdade religiosa fundada na dignidade da pessoa humana. Eles comeram do fruto, e quando Deus perguntou por que eles fizeram isso, eles disseram: “Nós comemos porque Vós nos destes o direito à liberdade religiosa e o fundamentou na dignidade de nossa pessoa”. Ora, se eles realmente tivessem o direito à liberdade religiosa de Deus, então Deus não seria justo em puni-los, pois eles estavam apenas exercendo seus direitos. Mas Deus os puniu.Portanto, eles não tinham direito à liberdade religiosa. E se Adão e Eva não tinham esse direito, então não era algo fundado na dignidade da pessoa humana. E se não estiver fundamentado na dignidade da pessoa humana, nenhuma pessoa humana tem esse direito.

8. Vaticano II: Dignitatis Humanae, 3.

Por sua vez, a própria natureza social do homem exige que este exprima externamente os atos religiosos interiores, entre em comunicação com os demais em assuntos religiosos e professe de modo comunitário a própria religião. É, portanto, uma injustiça contra a pessoa humana e contra a própria ordem estabelecida por Deus, negar ao homem o livre exercício da religião na sociedade, uma vez salvaguardada a justa ordem pública.



RÉPLICA. A natureza humana não pode exigir que os homens expressem, compartilhem ou professem religiões não católicas, pois isso equivale a dizer que a natureza humana exige que os homens cometam o mal. Além disso, Deus não pode estabelecer o pecado como parte da ordem da vida humana, pois o pecado é uma desordem. E as falsas religiões são pecados. Portanto, as falsas religiões não fazem parte da ordem para a vida humana estabelecida por Deus. Além disso, o propósito da sociedade é promover o bem comum e restringir o mal. Mas a prática de falsas religiões é má. Portanto, não é um prejuízo restringir o exercício de falsas religiões na sociedade, mas sim um benefício.


OBJEÇÃO. O Vaticano II está falando apenas sobre o direito de praticar a religião em geral, e não sobre o direito de praticar falsas religiões. Em outras palavras, está falando de liberdade de consciência, não de liberdade de práxis. A razão é que ninguém pode ser coagido a agir contra sua consciência, pois a consciência do indivíduo é o árbitro final do que é certo e errado. Coagir um indivíduo a agir contra sua consciência em qualquer assunto, religioso ou não, seria errado. Seria um pecado contra a dignidade de sua pessoa.


RÉPLICA. Primeiro, a Dignitatis Humanae ensina, de fato, uma liberdade de práxis em relação a qualquer religião: “… deve-se em justiça a tais comunidades a imunidade que lhes permita regerem-se segundo as suas próprias normas, prestarem culto público ao Ser supremo, ajudarem os seus membros no exercício da vida religiosa e sustentarem-nos com o ensino e promoverem, enfim, instituições em que os membros cooperem na orientação da própria vida segundo os seus princípios religiosos” (6). Um direito é especificado por seu objeto. Se um objeto é mau, então o direito também é mau, ou seja, não é um direito verdadeiro. A falsa práxis religiosa é má. Portanto, o direito de praticar falsas religiões também é mau, i.e., não é um verdadeiro direito.


Em segundo lugar, há duas regras nos atos morais: uma regra objetiva e extrínseca e uma regra subjetiva e intrínseca. A regra objetiva e extrínseca é a lei. A regra subjetiva e intrínseca é a consciência. A consciência aplica a lei a um caso moral particular. Se a consciência não consulta a lei para aplicá-la na prática, quando poderia fazê-lo, age ilicitamente. Alguns são invencivelmente ignorantes da lei: ou seja, sem culpa própria, eles não conhecem e não podem conhecer a lei. Quando cometem pecado, a culpa do pecado não é imputada a eles, pois estão agindo de acordo com a regra de sua consciência. No entanto, eles ainda estão cometendo um pecado em um sentido objetivo, uma vez que não agem de acordo com o regimento da lei. E embora sua ignorância não seja culpa deles, eles não têm o direito de pecar, pois ninguém tem o direito de cometer o mal. A pessoa tem o direito de agir segundo a própria consciência apenas quando o julgamento da consciência é lícito, ou seja, somente quando está em conformidade objetiva com a lei e há certeza dessa conformidade por parte do sujeito. Pois somente nesses casos o direito de agir é especificado por um bem objetivo. Mas no que diz respeito às questões religiosas, a consciência de alguém só está em conformidade com a lei quando é especificada pela religião católica, pois a religião católica é a única religião boa e legal. Portanto, uma liberdade de consciência irrestrita em assuntos religiosos é falsa.


OBJEÇÃO. O Vaticano II não menciona especificamente as falsas religiões. Portanto, não está falando sobre falsas religiões.


RÉPLICA. Dignitatis Humanae, No. 6, ensina isto quando diz:

… reconhecimento civil especial é dado a uma comunidade religiosa na ordem constitucional da sociedade, é ao mesmo tempo imperativo que o direito à liberdade religiosa de todos os cidadãos e comunidades religiosas seja reconhecido e efetivado na prática.

Mas em qualquer multiplicidade de comunidades religiosas, há necessariamente algumas que são falsas. Portanto, o Vaticano II está falando de liberdade para as falsas religiões.


OBJEÇÃO. O Vaticano II está apenas sugerindo uma estratégia pastoral para o mundo secular moderno. Não tem nenhuma intenção de ensinar a liberdade religiosa como se fosse uma doutrina imutável revelada por Deus.


RÉPLICA. Dignitatis Humanae, No. 9, ensina:

… esta doutrina sobre a liberdade tem raízes na Revelação divina, e por isso tanto mais fielmente deve ser respeitada pelos cristãos.

Compare isso com Quanta Cura (citada acima), na qual o Papa Pio IX ensinou que a liberdade religiosa era “contra a doutrina da Escritura, da Igreja e dos Santos Padres”.


OBJEÇÃO. O Vaticano II está falando sobre o direito à liberdade religiosa como pertencente apenas à religião natural, prescindindo do fato da revelação divina e seus direitos e obrigações concomitantes.


RÉPLICA. O primeiro parágrafo da Dignitatis Humanae reconhece claramente que a religião católica é a única verdadeira religião. Mas a religião católica é uma religião divinamente revelada. Portanto, o Vaticano II não está falando de forma a prescindir do fato da revelação divina. Em todo caso, mesmo que falasse apenas da religião natural, ainda estaria errado, pois sob a lei natural não há direito à liberdade religiosa.


9. Vaticano II: Dignitatis Humanae, 3.


No entanto, [o governo civil] transgrediria claramente os limites impostos ao seu poder, se pretendesse comandar ou inibir atos religiosos.

A Sagrada Escritura elogia o governante civil Rei Josias por comandar a verdadeira religião e desarraigar as falsas religiões em seu reino (7), e o Rei Asa pelo mesmo (8). Mas as Sagradas Escrituras não podem louvar o homem por cometer pecado.


O cisma entre Israel e Judá é descrito como sendo um castigo de Deus por causa da idolatria de Salomão (9). Todos os sucessores de Salomão que falharam em conter a idolatria no reino são descritos pelas Sagradas Escrituras como tendo feito o mal. Mas se, inibindo a religião da idolatria, esses reis tivessem transgredido os limites de seu poder inibindo atos que são religiosos, então a Sagrada Escritura não os teria julgado por terem pecado por omissão ao não inibir a idolatria. Em vez disso, eles teriam sido julgados como opressores da liberdade religiosa.


Quando Moisés estava ausente do acampamento israelita, Arão falhou em inibir os atos religiosos relativos à adoração do bezerro de ouro. Por este fracasso, ele foi punido por Deus, que ordenou aos levitas que matassem seus próprios irmãos, companheiros e vizinhos (10).


Da mesma forma, muitos monarcas canonizados sustentaram leis penais destinadas a impedir hereges e apóstatas de praticarem falsas religiões e coagi-los a praticar o catolicismo que abandonaram; estes santos nunca se arrependeram desta legislação. Mas a Igreja não canoniza quem peca publicamente e morre sem se arrepender. Portanto, o governo civil não transgride os limites impostos ao seu poder se for para comandar ou inibir atos religiosos.


Por fim, o bem comum da sociedade civil é a salvação de seus membros. Mas a salvação não é possível fora da Igreja Católica. Portanto, um governo que negligencia tanto promover a Igreja Católica quanto inibir as religiões opostas à Igreja Católica é um governo que transgride contra seus cidadãos ao negligenciar a promoção de seu bem-estar comum.


OBJEÇÃO. O governo civil só tem poder sobre a ordem da natureza, não sobre a ordem da graça. Mas os atos religiosos são da ordem da graça. Portanto, o governo civil não pode comandar ou inibir atos religiosos.


RÉPLICA. Somente atos religiosos católicos são da ordem da graça, não atos de falsas religiões. Atos de falsas religiões são pecaminosas.

O governo civil é um ato natural que Deus, pela graça, elevou a uma finalidade sobrenatural. Em vista dessa finalidade, todas as autoridades, desde os pais de família até os governos de grandes países, têm o dever de Deus de promover o bem-estar sobrenatural das almas sob seus cuidados, na medida em que seus meios permitem. Portanto, essa elevação do governo civil por Deus confere não apenas a capacidade de ordenar seus cidadãos para fins sobrenaturais, mas o dever de fazê-lo. E como a Igreja é o único corpo religioso intimamente ordenado a esses fins sobrenaturais, o governo civil deve promover a Igreja e inibir as falsas religiões.


OBJEÇÃO. É concedido que a prática da falsa religião é má na ordem moral; entretanto, a Dignitatis Humanae está falando apenas da ordem civil, não da ordem moral. Em outras palavras, considera a liberdade religiosa um direito civil, não um direito moral.


RÉPLICA. É impossível que haja um direito na ordem civil que contradiga um direito na ordem moral; pois o mesmo Deus, que é a origem de todos os direitos, é o Governador supremo tanto da ordem moral quanto da ordem civil. Mas não existe o direito de praticar uma religião falsa na ordem moral; portanto, não existe o direito de praticar uma religião falsa na ordem civil.


10. Vaticano II: Dignitatis Humanae, 4.


… deve-se em justiça a tais comunidades a imunidade que lhes permita regerem-se segundo as suas próprias normas, prestarem culto público ao Ser supremo, ajudarem os seus membros no exercício da vida religiosa e sustentarem-nos com o ensino e promoverem, enfim, instituições em que os membros cooperem na orientação da própria vida segundo os seus princípios religiosos.


RÉPLICA. Qualquer governo religioso que não esteja submetido ao único governo verdadeiro estabelecido por Nosso Senhor é um falso governo. Os falsos governos religiosos não têm direito à liberdade de governo. Portanto, estabelecer um falso governo religioso (por exemplo, uma seita herética) oposto ao verdadeiro governo da Igreja é mau. Ninguém pode reivindicar de forma legítima e independente a liberdade de cometer o mal, caso contrário, toda a justiça, lei e ordem seriam uma farsa.


As falsas religiões não honram o Ser Supremo no culto público, nem auxiliam os membros na prática da vida religiosa, não os fortalecem pela instrução, nem promovem instituições ordenadas a princípios religiosos. Ao contrário, eles zombam publicamente do Ser Supremo, enfraquecem seus membros com falsas doutrinas e inibem os membros de praticar uma vida virtuosa por causa de seus maus costumes. Há apenas um corpo religioso com autoridade direta de Deus para ensinar, governar e santificar a humanidade: a Igreja Católica.


11. Vaticano II: Dignitatis Humanae, 4.


Também compete às comunidades religiosas o direito de não serem impedidas por meios legais ou pela ação administrativa do poder civil, de escolher, formar, nomear e transferir os próprios ministros, de comunicar com as autoridades e comunidades religiosas de outras partes da terra, de construir edifícios religiosos e de adquirir e usar os bens convenientes. Os grupos religiosos têm ainda o direito de não serem impedidos de ensinar e testemunhar publicamente, por palavra e por escrito a sua fé.


RÉPLICA. Ninguém tem o direito de não ser impedido de praticar o mal. Todo o propósito da lei é promover o bem e impedir o mal. Mas o estabelecimento e promoção de uma falsa religião da maneira descrita acima é mau. Portanto, ninguém tem o direito de não ser impedido das atividades descritas acima.


12. Vaticano II: Dignitatis Humanae, 4.


… na natureza social do homem e na própria índole da religião se funda o direito que os homens têm de, levados pelas suas convicções religiosas, se reunirem livremente ou estabelecerem associações educativas, culturais, caritativas e sociais.


RÉPLICA. É contra a natureza social do homem cometer o mal. Toda religião que tem sua origem última em uma pessoa humana é má. Portanto, é contra a natureza social do homem empreender atividades religiosas comunais, como as descritas acima, sob o impulso de seu próprio senso religioso. A verdadeira religião não segue os impulsos dos homens, mas os mandamentos de Deus. Pela mesma razão, o “sentido religioso” privado dos indivíduos não pode ser o fundamento do direito de estabelecer organizações religiosas.


13. Liberdade Religiosa: Conclusão.


João Paulo II exaltou muitas vezes o erro da liberdade religiosa, afirmando que o direito à liberdade religiosa era “premissa e garantia de todas as liberdades que asseguram o bem comum dos indivíduos e dos povos” (11). Ele também ensinou que a Igreja se esforça para tornar a liberdade religiosa uma realidade em todos os países. Compare isso com o ensinamento do Papa Pio IX de que a liberdade religiosa é “mais fatal em seus efeitos sobre a Igreja Católica e a salvação das almas”.


Em seu primeiro parágrafo, Dignitatis Humanae afirma que a religião católica é a única verdadeira religião. No entanto, não ensina que outras religiões são falsas e imorais. E, de fato, se considerasse outras religiões falsas e imorais, todo o documento seria incompreensível. Pois seria ensinar que a falsidade e a imoralidade têm direitos iguais à verdade e à virtude, o que seria um colapso total da lei e da ordem.


Ao contrário, Dignitatis Humanae foi escrita sob a tática do modernismo. No modernismo, “a única religião verdadeira” não significa a única religião verdadeira (ou seja, o catolicismo); significa qualquer que seja a religião que a maioria das pessoas pensa ser a melhor expressão do impulso religioso coletivo contemporâneo. Todas as religiões são simplesmente gradações dessa expressão, sem referência à verdade ou bondade objetiva, ou seja, sem referência a Deus. Por estes princípios, a Dignitatis Humanae derruba não apenas a religião católica, mas todas as religiões. Por esta razão, São Pio X descreveu esses erros como falácias e disparates, muito distantes do ensino católico, que abrem o caminho para o ateísmo (12).


O Papa Pio IX ensinou que a liberdade civil de toda forma de culto conduz à corrupção da moral e da mente do povo e à propagação da praga do indiferentismo (13). Esta avaliação da liberdade religiosa também se prova a posteriori. Pois em todos os países onde a liberdade religiosa é consagrada constitucionalmente, os cidadãos tornam-se gradualmente cada vez menos religiosos e mais ateus; este é um passo necessário para a conquista do estado secular de poder absoluto. Aumentar a indiferença religiosa é um objetivo planejado do secularismo, que busca amalgamar todas as religiões em um humanismo sem dogmas, de modo que o estado possa alcançar autoridade absoluta sem a dissonância causada pelas distinções religiosas. Mas a dissonância causada pela distinção entre o catolicismo e as falsas religiões é algo profetizado pela Sagrada Escritura que durará até o Juízo. Esta é quase a totalidade da substância do Apocalipse de São João. O que Deus profetizou não pode ser desfeito pelo homem.


Segundo erro  —  Ecumenismo


14. Tese Católica: É um pecado promover a unidade religiosa entre a Igreja Católica e as seitas não católicas.


Sagrada Escritura:

O anjo do Senhor subiu de Galgala ao lugar o (chamado) dos Chorosos, e disse: Eu vos tirei do Egito e vos introduzi na terra, que eu tinha jurado a vossos pais (dar-vos), e prometi-vos não mais romper o pacto (que fiz) convosco, com a condição, porém, de que não faríeis aliança com os habitantes desta terra, mas que destruiríeis os seus altares. Vós não quisestes ouvir a minha voz; por que fizestes isto? Por esta razão eu não quis expulsá-los, à vossa frente, para que os tenhais por inimigos, e os seus deuses sejam a vossa ruína. Ao dizer o anjo do Senhor estas palavras a todos os filhos de Israel, levantaram estes a sua voz e choraram. (14)


Não vos sujeiteis ao mesmo jugo que os infiéis. Pois, que união pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que sociedade entre a luz e as trevas? Que concórdia entre Cristo e Belial? Que de comum entre o fiel e o infiel? Que relação entre o templo de Deus e os ídolos? Com efeito, somos o templo de Deus vivo, como Deus disse: Habitarei neles e andarei entre eles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo Portanto, sai do meio deles e separai-vos, diz o Senhor. Não toqueis o que é impuro, e eu vos receberei. Serei vosso pai, e vós sereis meus filhos e minhas filhas, diz o Senhor todo poderoso. (15)


Magistério: Papa Pio XI, Mortalium Animos, 1928.

Acaso alguém ousaria afirmar que ama a Cristo se, na medida de suas forças, não procura realizar as coisas que Ele desejou, ele que rogou ao Pai para que seus discípulos fossem “UM”? Acaso não quis o mesmo Cristo que seus discípulos fossem identificados por este como que sinal e fossem por ele distinguidos dos demais, a saber, se mutuamente se amassem: “Todos conhecerão que sois meus discípulos nisto: se tiverdes amor um pelo outro?”. Oxalá todos os cristão fossem “UM”, acrescentam: eles poderiam repelir muito melhor a peste da impiedade que, cada dia mais, se alastra e se expande, e se ordena ao enfraquecimento do Evangelho. Os chamados “pancristãos” espalham e insuflam estas e outras coisas da mesma espécie. E eles estão tão longe de serem poucos e raros mas, ao contrário, cresceram em fileiras compactas e uniram-se em sociedades largamente difundidas, as quais, embora sobre coisas de fé cada um esteja imbuído de uma doutrina diferente, são, as mais das vezes, dirigidas por acatólicos. Esta iniciativa é promovida de modo tão ativo que, de muitos modos, consegue para si a adesão dos cidadão e arrebata e alicia os espíritos, mesmo de muitos católicos, pela esperança de realizar uma união que parecia de acordo com os desejos da Santa Mãe, a Igreja, para Quem, realmente, nada é tão antigo quanto o reconvocar e o reconduzir os filhos desviados para o seu grêmio. Na verdade, sob os atrativos e os afagos destas palavras oculta-se um gravíssimo erro pelo qual são totalmente destruídos os fundamentos da fé.


(…) Ocorre-nos dever esclarecer e afastar aqui certa opinião falsa, da qual parece depender toda esta questão e proceder essa múltipla ação e conspiração dos acatólicos que, como dissemos, trabalham pela união das igrejas cristãs. Os autores desta opinião acostumaram-se a citar, quase que indefinidamente, a Cristo dizendo: “Para que todos sejam um”… “Haverá um só rebanho e um só Pastor”. Fazem-no todavia de modo que, por essas palavras, queriam significar um desejo e uma prece de Cristo ainda carente de seu efeito. Pois opinam: a unidade de fé e de regime, distintivo da verdadeira e única Igreja de Cristo, quase nunca existiu até hoje e nem hoje existe; que ela pode, sem dúvida, ser desejada e talvez realizar-se alguma vez, por uma inclinação comum das vontades; mas que, entrementes, deve existir apenas uma fictícia unidade… Afirmam eles que tratariam de bom grado com a Igreja Romana, mas com igualdade de direitos, isto é, iguais com um igual. Mas, se pudessem fazê-lo, não parece existir dúvida de que agiriam com a intenção de que, por um pacto que talvez se ajustasse, não fossem coagidos a afastarem-se daquelas opiniões que são a causa pela qual ainda vagueiem e errem fora do único aprisco de Cristo.

Assim sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo.


(…) Assim, Veneráveis Irmãos, é clara a razão pela qual esta Sé Apostólica nunca permitiu aos seus estarem presentes às reuniões de acatólicos por quanto não é lícito promover a união dos cristãos de outro modo senão promovendo o retorno dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora, infelizmente, eles se apartaram dela.


(…) Portanto, dado que o Corpo Místico de Cristo, isto é, a Igreja, é um só, compacto e conexo, à semelhança do seu corpo físico, seria inépcia e estultície afirmar alguém que ele pode constar de membros desunidos e separados: quem pois não estiver unido com ele, não é membro seu, nem está unido à cabeça, Cristo. (16)


Raciocínio teológico: Não pode haver unidade entre uma multiplicidade de coisas, a menos que cada coisa dentro da multiplicidade esteja unida com as outras coisas sob um princípio superior de unidade. Por exemplo, um homem e uma mulher estão unidos no princípio superior do matrimônio, no qual “serão dois em uma só carne” (17). Da mesma forma, uma multiplicidade de estados independentes poderia se unir sob o princípio superior de um governo central, que teria autoridade sobre cada estado membro. Mas o princípio da unidade da Igreja Católica é o Espírito Santo, que é Deus, acima do qual não existe princípio superior. Portanto, a unidade entre a Igreja Católica e as seitas não católicas é impossível.


15. Vaticano II: Discurso de Abertura, João XXIII, 1962.


A solicitude da Igreja em promover e defender a verdade, deriva disso que, segundo o desígnio de Deus “que quer salvar todos os homens e que todos cheguem ao conhecimento da verdade”, os homens não podem sem a ajuda de toda a doutrina revelada conseguir uma completa e sólida união dos espíritos, com a qual andam juntas a verdadeira paz e a salvação eterna. Infelizmente, a família cristã, não atingiu ainda, plena e perfeitamente, esta visível unidade na verdade. A Igreja Católica julga, portanto, dever seu empenhar-se ativamente para que se realize o grande mistério daquela unidade, que Jesus Cristo pediu com oração ardente ao Pai celeste, pouco antes do seu sacrifício (Para que sejam um [Jo 17:11]). (18)


RÉPLICA. É uma blasfêmia contra o Espírito Santo afirmar que a Igreja Católica é membro de uma família cristã desunida. Isso O degrada, tornando-O um princípio inferior de unidade do que os esforços do homem para fabricar a unificação religiosa. Visto que a Igreja não pode ter o dever de fazer o que é blasfemo, a Igreja não tem o dever de trabalhar para alcançar a unidade visível com as seitas não católicas. Tem o dever apenas de trazê-los de volta da heresia e/ou cisma à unidade católica.


16. Vaticano II: Unitatis Redintegratio, 8.


É coisa habitual entre os católicos reunirem-se frequentemente para aquela oração pela unidade da Igreja que o próprio Salvador pediu ardentemente ao Pai, na vigília de sua morte: “Que todos sejam um”. Em algumas circunstâncias peculiares, como por ocasião das orações prescritas “pro unitate” em reuniões ecuménicas, é lícito e até desejável que os católicos se associem aos irmãos separados na oração. Tais preces comuns são certamente um meio muito eficaz para impetrar a unidade. São uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais ainda estão unidos os católicos com os irmãos separados: “Onde dois ou três estão congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles”. (19)


RÉPLICA. Não existe nenhum costume católico de rezar pela unidade da Igreja com a oração “para que todos sejam um”. A tradição católica não conhece orações prescritas para este tipo de unidade.


O chamado “encontro ecumênico” é um evento caracterizado pelo diálogo mútuo e orações pela unidade entre duas ou mais seitas religiosas. Mas rezar pela unidade, quando Deus já é o próprio princípio da unidade da Igreja, é testemunhar uma falsa noção de unidade. Dar testemunho da falsidade é um pecado contra o oitavo mandamento. Portanto, ninguém pode participar de reuniões ecumênicas (20).


Porque o Espírito Santo já é o princípio da unidade da Igreja, as reuniões ecumênicas não podem ser um meio eficaz para obter a graça da unidade, nem podem ser uma expressão dos chamados “laços que ligam” católicos a não católicos. O Papa Pio XI disse que qualquer um que apoie a teoria e a prática do ecumenismo “está abandonando completamente a religião revelada por Deus” (21).


Aplicar as palavras de Nosso Senhor  —  onde dois ou três estão reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles  —  a reuniões ecumênicas, é uma blasfêmia. Pois aqueles que se reúnem em nome do Senhor são aqueles que se submetem aos seus ensinamentos, seus mandamentos e ao governo que Ele estabeleceu em São Pedro e seus sucessores. Mas os não católicos não se submetem a essas coisas. Portanto, Cristo não pode habitar no meio de reuniões ecumênicas. Afirmar que Ele pode é dizer que Deus tolera o mal, o que é outra blasfêmia. A Sagrada Escritura testifica:


Aquele que diz que O conhece, e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade (I Jo. II, 4).

Se ele não ouvir a Igreja, considere-o como um gentio e publicano (Mt. XVIII, 17).


OBJEÇÃO. O Cânon Romano reza: pela vossa santa Igreja Católica, que vos digneis pacificar, manter, unir e governar. Da mesma forma, nas orações antes da comunhão, o padre reza: não olhe para os meus pecados, mas para a fé da Tua Igreja; e de acordo com Tua vontade, digna-Te pacificá-la e uni-la. Mas estas são orações pela unidade. Portanto, é costume na Igreja rezar pela unidade.


RÉPLICA. As preces tradicionais pela unidade referem-se ao fortalecimento dos laços entre os membros e o chefe do Corpo Místico, não à obtenção de uma unidade visível que ainda não foi realizada. Da mesma forma, as orações tradicionais pela unidade de um casamento não são orações para que uma unidade que antes estava ausente possa ser obtida, mas sim para que a unidade que já está presente no casamento seja fortalecida. As orações ecumênicas pela unidade, ao contrário, pedem a obtenção de uma unidade que atualmente está ausente.


OBJEÇÃO. Iesu Dulcissime Redemptor, o tradicional Ato de Dedicação da Raça Humana a Cristo Rei, diz: “Sê Rei daqueles que são enganados por opiniões errôneas, ou a quem a discórdia mantém à distância, e chama-os de volta ao porto da verdade e da unidade de fé, para que em breve haja um só rebanho e um só pastor” (22). Mas o objetivo do ecumenismo nada mais é do que a obtenção de um só rebanho e um só Pastor. Portanto, rezar pela unidade ecumênica não é uma novidade, mas algo tradicional.


RÉPLICA. Esta é uma oração pelo fim da heresia e do cisma. É uma oração para que os batizados não católicos renunciem aos seus erros e posturas cismáticas, para que todos os pecados contra a unidade da fé e do governo da Igreja Católica possam terminar. É uma oração para que a multiplicidade de falsos rebanhos e falsos pastores seja eliminada, de modo que permaneça apenas o único verdadeiro rebanho e o único verdadeiro Pastor: a Igreja Católica e sua cabeça visível, o Romano Pontífice. Não é uma oração para obter a unidade visível com as seitas não católicas que a Igreja “ainda não alcançou plenamente”, como disse João XXIII no discurso de abertura do Vaticano II.


17. Vaticano II: Unitatis Redintegratio, 3.


Nos séculos posteriores, porém, originaram-se dissensões mais amplas. Comunidades não pequenas separaram-se da plena comunhão da Igreja católica, algumas vezes não sem culpa dos homens dum e doutro lado.


RÉPLICA. A Igreja Católica é santa, o que significa que, embora membros particulares da Igreja possam ser a causa do mal, considerados como uma instituição inteira, não podem ser a causa do mal. Mas o cisma é um mal. Portanto, a Igreja não pode ser causa de cisma (23).


OBJEÇÃO. O Vaticano II não culpa toda a Igreja como causa do cisma; está apenas dizendo que o escândalo de maus católicos individuais às vezes levou outros católicos ao cisma.


RÉPLICA. A responsabilidade de interpretar um ensinamento da Igreja é dos Romanos Pontífices. Mas os chamados ‘papas’ do Vaticano II pediram perdão ao mundo em nome dos pecados da Igreja várias vezes (24). Portanto, a interpretação sugerida acima não é consistente com a interpretação oficial dada pelos próprios chamados ‘papas’. De qualquer forma, mesmo que essa fosse a interpretação correta, seria uma afirmação historicamente falsa. Pois não há exemplo na história de um grande grupo de católicos entrando em cisma como resultado do comportamento escandaloso de outro católico.


A Igreja Católica tem sido historicamente muito solícita em readmitir seus filhos dissidentes à unidade com o Romano Pontífice. Por exemplo, os gregos ortodoxos se reconciliaram (embora brevemente) nos Concílios de Latrão (IV), Lyon II e Florença. Os armênios também se reconciliaram em Florença. Os maronitas se reconciliaram no V Concílio de Latrão. As relações com os cristãos malabares e rutenos foram restauradas no século XVI. Os cristãos caldeus se reconciliaram no século XIX. Os siro-malabares foram reconciliados sob o papa Pio XI em 1923. No entanto, depois de sessenta anos de ecumenismo promovido pelo Vaticano II, nenhuma reconciliação com nenhum grupo não católico foi realizada. Isso porque o ecumenismo não está ordenado à reconciliação dos hereges e cismáticos com a Igreja Católica, mas sim a uma gradual coalescência entre a Igreja e essas falsas religiões, resultando em uma massa indefinida de pessoas sem dogma, sem culto e sem governo.


18. Vaticano II, Unitatis Redintregatio, 6.


A Igreja peregrina é chamada por Cristo a essa reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma. Assim, se em vista das circunstancias das coisas e dos tempos houve deficiências, quer na moral, quer na disciplina eclesiástica, quer também no modo de enunciar a doutrina — modo que deve cuidadosamente distinguir-se do próprio depósito da fé — tudo seja reta e devidamente restaurado no momento oportuno.



RÉPLICA. Cristo não propõe e não pode propor absurdos ou automutilação à Igreja. O Papa Gregório XVI ensinou que é “obviamente absurdo e prejudicial propor uma certa ‘restauração e regeneração’ para ela como se fosse necessária para sua segurança e crescimento, como se ela pudesse estar sujeita a defeito, obscurecimento ou outro infortúnio” (25). Portanto, Cristo não propõe reforma contínua à Igreja por necessidade.


Pertence à indefectibilidade da Igreja que ela nunca pode ensinar utilizando uma certa forma de formulação que leva as almas ao erro ou ao pecado. Ela é protegida pelo Espírito Santo não apenas de ensinar erros substanciais, mas também de utilizar fórmulas ou expressões e instituir disciplinas que levam as almas ao pecado. Não há exemplo na história de uma doutrina ensinada pela Igreja de maneira pouco clara que tenha levado as almas ao pecado. Portanto, a Igreja nunca terá necessidade de “corrigir” certas “deficiências” em suas disciplinas ou nas formas como ela formula a doutrina, pois na Igreja não pode haver deficiências nessas áreas.


OBJEÇÃO. Quando rezava diante do crucifixo, São Francisco de Assis ouviu Deus dizer-lhe: “Vai, Francisco, e repara a minha casa que, como vês, está em ruínas”. Mas isso significava que Deus estava propondo a São Francisco uma reforma da Igreja. Além disso, na tradicional coleta para São Pio V, diz-se que Deus o escolheu para restaurar o culto da Igreja. Quo Primum (1570) também fala sobre a restauração do culto. Portanto, Deus propõe uma reforma periódica da Igreja e da religião católica.


RÉPLICA. Embora essa anedota tenha sido interpretada pelos modernistas como significando que Deus estava propondo que São Francisco reformasse toda a Igreja por meio da Ordem Franciscana, o próprio santo não a interpretou dessa maneira. Ele interpretou isso como significando um reparo literal da capela em ruínas de São Damião em Assis. Deus nunca corrigiu esta interpretação, o que Ele teria feito se São Francisco não tivesse entendido o pedido. Portanto, este mandamento divino ao santo de Assis não pode ter significado uma reforma de uma Igreja que havia sido arruinada em questões de doutrina ou disciplina.


São Pio V foi de fato chamado por Deus para restaurar o culto da Igreja em lugares onde este havia caído sob a influência do protestantismo e seus predecessores heréticos. Esta era a intenção da Quo Primum. Esta palavra “restauração” não pode ser tomada como se implicasse que toda a Igreja se afastou de sua própria adoração, pois não apenas isso é absolutamente impossível, mas também não é historicamente factual.


OBJEÇÃO. O V Concílio de Latrão fala de uma renovação da Igreja universal. O Vaticano II fala do mesmo (26).


RÉPLICA. O V Concílio de Latrão, de fato, fala de uma reforma e renovação do status da Igreja universal (27). No entanto, tal Concílio não entendeu essa “reforma” como significando a alteração da própria substância da fé católica. A reforma e a renovação de que tratou a Sessão XII do Concílio consistiu em mobilizar a cristandade para a guerra contra os turcos, que dificilmente podem ser chamados de ecumênicos. Esse equívoco, em que o V Concílio de Latrão é citado fora de contexto para convencer os leitores de que o ecumenismo é tradicional, é típico do modernismo. O modernista destrói a fé tradicional enquanto simultaneamente professa que está defendendo a fé tradicional ao citar fontes antigas fora de contexto.


19. Vaticano II: Unitatis Redintegratio, 8.


Todavia, não é lícito considerar a communicatio in sacris como um meio a ser aplicado indiscriminadamente na restauração da unidade dos cristãos. Esta communicatio depende principalmente de dois princípios: da necessidade de testemunhar a unidade da Igreja e da participação nos meios da graça. O testemunho da unidade frequentemente a proíbe. A busca da graça algumas vezes a recomenda.


RÉPLICA. O pecado não é algo que é proibido de forma geral, mas às vezes é recomendável. Ao contrário, o pecado é sempre proibido e nunca louvável. Mas o culto em comum com os não católicos (communicatio in sacris) é pecado. Portanto, a communicatio in sacris é sempre proibida e nunca pode ser louvável. A cooperação material mediata no pecado pode ser tolerada apenas quando o ato não é intrinsecamente mau e quando há uma razão proporcional muito séria (28). Um exemplo disso seria assistir a um funeral não católico de um parente ou amigo próximo, sem, no entanto, participar dos atos litúrgicos. A communicatio in sacris nunca é recomendável, como diz o Vaticano II.


20. Vaticano II: Unitatis Redintegratio, 9.


É preciso conhecer a mente dos irmãos separados… Muito ajudam para isso as reuniões de ambas as partes para tratar principalmente de questões teológicas, onde cada parte dever agir de igual para igual.


RÉPLICA. Somente a Igreja Católica tem autoridade de Deus para ensinar, governar e santificar as nações da terra com verdadeira doutrina, culto adequado e moral perfeita. Todas as falsas religiões carecem dessa autoridade, preferindo seguir os enganos do diabo em cisma e heresia, separando-se do Corpo Místico de Cristo. Não existe “pé de igualdade” entre os que têm uma missão de Deus e os que se escravizam aos enganos do diabo. O que separa as seitas da Igreja Católica não são as “perspectivas” ou os “problemas teológicos”, mas o cisma. O que é “de grande valor” não são as reuniões, mas o arrependimento, a abjuração dessas falsidades e pecados e a conversão a Cristo. Moisés não se encontrou com o rebelde Coré e seus seguidores cismáticos para tentar entender a perspectiva de seus irmãos separados (29). O profeta Elias não se reuniu com os profetas de Baal para discutir problemas teológicos em pé de igualdade (30). Nosso Bendito Senhor nunca se encontrou com adivinhos pagãos para discutir problemas teológicos.


OBJEÇÃO. A Unitatis Redintegratio reconcilia o ecumenismo com os ensinamentos tradicionais ao dizer que, apesar de estarem separados da “plena comunhão” com a Igreja Católica, “todos os que foram justificados pela fé no Batismo são membros do corpo de Cristo” (31). Tanto o Concílio de Florença como Santo Agostinho apoiam esta posição.


RÉPLICA. O Vaticano II cita o Concílio de Florença para defender o ecumenismo como doutrina tradicional (32). A passagem citada descreve os efeitos do batismo na alma devidamente disposta para educar os armênios sobre os sacramentos. Um dos efeitos do batismo, ensina este documento, é tornar o recém-batizado membro de Cristo e de seu corpo, a Igreja (33). Obviamente o documento fala do batismo católico na Igreja Católica, não do batismo administrado fora da Igreja ilicitamente; pois estes últimos batismos de adultos, mesmo quando administrados validamente, não conferem a adesão à Igreja, uma vez que no próprio ato do batismo o candidato está pecando por professar cisma com o cabeça da Igreja. Portanto, não é de se estranhar que o mesmo Concílio de Florença também ensine que o corpo de Cristo é a Igreja (34), e que todos os que estão fora deste corpo, inclusive os cismáticos, apesar de batizados, irão para o fogo eterno, a menos que sejam reunidos a ela antes da morte (35). Que os autores do Vaticano II citem o Concílio de Florença em apoio ao ecumenismo é completamente absurdo.


Como as crianças que carecem do uso da razão são incapazes de pecar, as crianças menores de idade batizadas em seitas heréticas sempre foram consideradas membros da Igreja Católica até que atinjam a idade da razão. Quando atingem a idade da razão, não são mais considerados membros da Igreja.


O Vaticano II também cita Santo Agostinho em apoio ao ecumenismo (36). A citação é de um sermão proferido durante o cisma donatista. Em outro lugar, Santo Agostinho descreve esse cisma como fundado por traidores, condenado pelo papa e pelo concílio, separado do mundo inteiro e uma causa de divisão, violência e derramamento de sangue (37). No início do século V, a seita donatista tornou-se tão conhecida por sua imoralidade e violência que o próprio imperador decidiu intervir. Ele tentou uma resolução pacífica. Por meio de um legado imperial, uma disputa foi arranjada entre os bispos donatistas e católicos. Esta disputa é conhecida como Collatio de 411. Foi pouco antes do Collatio que Santo Agostinho fez este sermão sobre o Salmo XXXII, citado pelo Vaticano II, no qual se referiu aos donatistas como “nossos irmãos”. Claramente, seu objetivo era instilar uma disposição pacífica entre os católicos, cuja paciência já havia sido severamente testada, para que os bispos de ambos os lados pudessem ser livres para tentar uma resolução ordenada do conflito sem tumulto público. Apesar de se referir aos donatistas como ‘irmãos’, ele também afirma explicitamente que eles estão “separados do corpo” (38). Este sermão não tinha nada a ver com o ecumenismo.


21. Ecumenismo: Conclusão.


Unitatis Redintegratio é a declaração de missão do Vaticano II para alcançar a unidade visível com os grupos não católicos. Tal empreendimento necessariamente repudia a atual visibilidade e unidade da Igreja, Corpo Místico de Cristo. Este erro também está contido no documento conciliar Lumen Gentium, que será examinado a seguir.


A unidade da Igreja é aquela nota pela qual ela é una na profissão da mesma fé, na comunhão dos mesmos sacramentos validamente, licitamente e certamente celebrados, e na submissão à mesma autoridade legítima, i.e., o Romano Pontífice. Nenhuma seita não católica tem a nota da unidade cristã, nem jamais terá. Esta nota é encontrada apenas na Igreja Católica. E é uma nota própria, significando algo visível, pelo qual algo é conhecido como uma certa coisa. A nota visível da unidade jamais passará da Igreja Católica, pois o princípio da unidade da Igreja é o próprio Espírito Santo.



O ecumenismo não é realmente algo religioso, mas político. Embora seja uma tentativa de amalgamar diferentes religiões numa única; esta futura unidade religiosa seria algo fabricado pelos homens e, como tal, seria semelhante a um mero negócio, corporação ou estado, sob o domínio dos homens. É simplesmente uma parte do projeto globalista mais amplo de secularização social que foi posto em movimento pela revolta protestante; como tal, opõe-se intrinsecamente à missão da Igreja: a salvação das almas.


Terceiro erro — Salvação por meio de seitas não católicas


22. Tese Católica: Seitas não católicas não são meios de salvação.


Sagrada Escritura:

Não farás para ti escultura, nem imagem alguma de tudo o que há no alto céu, ou em baixo na terra, ou nas águas de baixo da terra. Não as adorarás, e nem lhes prestarás culto, porque eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem. (39)

Tiram o ouro do saquitel, pesam a prata na balança, justam com um ourives para que faça um deus, diante do qual se prostram em adoração. Levam-no às costas, colocam-no no seu nicho, e ele ali fica sem se mover do lugar; quando clamarem a ele, não ouvirá, nem os salvará da tribulação. (40)


Mas, pelo que toca aos tímidos, aos incrédulos, aos execráveis, aos homicidas, aos fornicadores, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no tanque ardente de fogo e de enxofre: o que é a segunda morte. (41)


Magistério: Credo Atanasiano; Papa Bonifácio VIII, Unam Sanctam (1302); Concílio de Florença; Papa Gregório XVI, Mirari Vos (1832), Summo Jugitur (1832); Papa Pio IX, Singulari Quadam (1854), Quanto Conficiamur Moerore (1863), Syllabus dos Erros (1864), Jam Vos Omnes (1868); Papa Pio XI, Mortalium Animos (1928).


Quem quiser ser salvo, antes de tudo é necessário que mantenha a fé católica, fé que, a menos que todos a mantenham íntegra e imaculada, sem dúvida perecerá eternamente. (42)

Una, santa, católica e apostólica: esta é a Igreja que devemos crer e professar já que é isso o que a ensina a fé. Nesta Igreja cremos com firmeza e com simplicidade testemunhamos. Fora dela não há salvação, nem remissão dos pecados…


Por isso, declaramos, dizemos, definimos e pronunciamos que é absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana estar sujeita ao Romano Pontífice. (43)


A Santa Igreja Romana… crê firmemente, professa e prega que nenhum dos que existem fora da Igreja Católica — não apenas pagãos, mas também judeus, hereges ou cismáticos — pode tornar-se participante da vida eterna; mas irá para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos (Mt XXV, 41), a menos que antes do fim da vida sejam reunidos a ela. (44)


Essa opinião perversa é difundida por todos os lados pela fraude dos ímpios que afirmam ser possível obter a salvação eterna da alma pela profissão de qualquer tipo de religião, desde que seja mantida a moralidade. Certamente, em assunto tão claro, afastarás este erro mortal das pessoas confiadas aos teus cuidados. Com a admoestação do apóstolo de que “há um só Deus, uma só fé, um só batismo” podem temer aqueles que inventam a noção de que o porto seguro da salvação está aberto a pessoas de qualquer religião. (45)


Aquele que aderir ao autor de um cisma não possuirá o reino de Deus. (46)


A verdadeira Igreja é una, santa, católica, apostólica e romana; única: a Cátedra fundada sobre Pedro pelas palavras do Senhor; fora de seu rebanho não se encontra nem a verdadeira fé nem a salvação eterna. (47)



É um dogma católico muito conhecido que não é possível ser salvo fora da Igreja Católica. A salvação eterna não pode ser obtida por aqueles que se opõem à autoridade e às declarações da mesma Igreja e estão obstinadamente separados da unidade da Igreja e também do sucessor de Pedro, o Romano Pontífice, a quem “a custódia da vinha foi confiada pelo Salvador”. (48)


Ora, quem examinar e refletir cuidadosamente sobre a condição das várias sociedades religiosas, divididas entre si e separadas da Igreja Católica, que, desde os dias de nosso Senhor Jesus Cristo e seus Apóstolos, nunca cessou de exercer, por seus legítimos pastores, e ainda continua exercendo, o poder divino que lhe foi confiado por este mesmo Senhor; não pode deixar de se convencer de que nenhuma dessas sociedades por si só, nem todas elas juntas, podem de qualquer maneira constituir e ser aquela Igreja Católica Una que Cristo nosso Senhor construiu, estabeleceu e desejou que continuasse; e que eles não podem de forma alguma ser considerados ramos ou partes dessa Igreja, uma vez que estão visivelmente separados da unidade católica. Pois, considerando que tais sociedades são destituídas daquela autoridade viva estabelecida por Deus, que ensina especialmente aos homens o que é da Fé, e qual é a regra da moral, e os dirige e guia em todas as coisas que pertencem à salvação eterna, assim, eles têm variado continuamente em suas doutrinas, e essa mudança e variação ocorre incessantemente entre eles. Todos devem compreender perfeitamente, e ver clara e evidentemente, que tal estado de coisas se opõe diretamente à natureza da Igreja instituída por nosso Senhor Jesus Cristo; pois nessa Igreja a verdade deve sempre continuar firme e sempre inacessível a toda mudança, como um depósito dado a essa Igreja para ser guardado em sua integridade, para a guarda da qual a presença e a ajuda do Espírito Santo foram prometidas à Igreja para sempre. (49)


A Igreja Católica é a única a manter o verdadeiro culto. Esta é a fonte da verdade, esta é a casa da fé, este é o templo de Deus: se alguém não entrar aqui, ou se alguém sair dela, é um estranho à esperança de vida e salvação. (50)


Raciocínio teológico: Cristo quis que os méritos de sua morte salvífica sacrificial na cruz fossem distribuídos à humanidade não de forma errática, mas por meio da Igreja Católica, que é seu Corpo Místico, sua Esposa Imaculada, o Templo do Espírito Santo e o Reino de Deus. Cristo é a fonte de todas as graças, e a Igreja Católica é a distribuidora exclusiva dessas graças. Mas não há salvação exceto pela graça de Cristo. Portanto, as seitas não católicas não são meios de salvação.


23. Vaticano II: Unitatis Redintegratio, 3.


Os irmãos separados de nós também usam muitas ações litúrgicas da religião cristã. Estes certamente podem gerar verdadeiramente uma vida de graça em modos que variam de acordo com a condição de cada Igreja ou Comunidade. Estas ações litúrgicas devem ser consideradas capazes de dar acesso à comunidade da salvação. Segue-se que as Igrejas e Comunidades separadas como tais, embora acreditemos que sejam deficientes em alguns aspectos, de forma alguma foram privadas de significado e importância no mistério da salvação. Pois o Espírito de Cristo não se absteve de usá-los como meio de salvação. (51)


RÉPLICA. Não há salvação fora da Igreja Católica. As seitas não católicas estão fora da Igreja Católica. Portanto, as seitas não católicas não são meios de salvação.

Nem as seitas não católicas usam ações litúrgicas da religião cristã. Pois a religião cristã é a religião católica. Somente as ações litúrgicas desta religião são lícitas e, como tais, engendram a vida da graça (52). As ações litúrgicas das falsas religiões e seitas são objetivamente pecaminosas, mesmo quando suas aparências se aproximam muito das externas católicas; como resultado, opõem-se à vida da graça.


OBJEÇÃO. O Vaticano II quis dizer que a salvação é mais eficaz na Igreja Católica do que nas seitas não católicas.


RÉPLICA. Todas as seitas não católicas rejeitam publicamente a submissão à autoridade da Igreja divinamente designada por Cristo. Mas esta rejeição da autoridade é um pecado. E é impossível que alguém possa ser salvo por meio do pecado. O pecado não é um meio menos eficaz de salvação, mas um impedimento à salvação. Portanto, não há salvação por meio de seitas não católicas.


OBJEÇÃO. Papa Pio IX, na Quanto conficiamur moerore, disse que a salvação é possível para aqueles que obedecem diligentemente à lei natural e levam uma vida honesta. Mas parece que muitos membros de grupos religiosos fora da Igreja Católica fazem isso. Parece, portanto, que Deus santifica e salva os homens fora da Igreja.


RÉPLICA. O Papa Pio IX disse que aqueles que estão em invencível ignorância sobre a verdadeira religião, e que obedecem diligentemente à lei natural e vivem uma vida honesta, são capazes de alcançar a salvação (53). Ele escreveu: “É necessário ter certeza de que aqueles que operam na ignorância da verdadeira religião, se esta ignorância é invencível, não são maculados por nenhuma culpa neste assunto aos olhos de Deus” (54). A ignorância invencível sobre a verdadeira religião é uma condição pela qual, não por culpa própria, é impossível conhecer a verdadeira religião. Alguém que está em ignorância invencível sobre a verdadeira religião, mas que obedece diligentemente à lei natural e vive uma vida honesta, já é membro da Igreja implicitamente e in voto (por desejo). É necessário para a salvação por necessidade de meios pertencer à Igreja pelo menos implicitamente e in voto. É necessário por preceito pertencer à Igreja in re (por adesão visível). “Necessidade de meios” refere-se ao fato de que, sem eles, a salvação absolutamente não pode ser alcançada. “Necessidade de preceito” refere-se ao fato de que, se fosse omitido inculpavelmente (sem culpa), a pessoa ainda poderia ser salva. Mas se alguém omite culposamente a entrada na Igreja (i.e., com culpa), não pode ser salvo. Este é o significado do axioma extra Ecclesiam nulla salus (55).


O Papa Pio IX não está ensinando que os homens modernos que conhecem a Igreja Católica, mas se recusam a se submeter a ela, podem ser salvos apenas porque pagam seus impostos e são gentis com os animais. Ele ensina: “A salvação eterna não pode ser obtida por aqueles que se opõem à autoridade e às declarações da mesma Igreja e estão obstinadamente separados da unidade da Igreja e também do sucessor de Pedro, o Romano Pontífice, a quem ‘a custódia da vinha foi confiada pelo Salvador’”(56).


24. Vaticano II: Unitatis Redintegratio, 15.


Também é conhecido de todos com quanto amor os cristãos-orientais realizam as cerimónias litúrgicas, principalmente a celebração eucarística, fonte da vida da Igreja e penhor da glória futura, pela qual os fiéis unidos ao Bispo, tendo acesso a Deus Pai mediante o Filho, o Verbo encarnado, morto e glorificado, na efusão do Espírito Santo, conseguem a comunhão com a Santíssima Trindade, feitos “participantes da natureza divina”. Por isso, pela celebração da Eucaristia do Senhor, em cada uma dessas Igrejas, a Igreja de Deus é edificada e cresce, e pela concelebração se manifesta a comunhão entre elas.


RÉPLICA. O termo ‘fiel’ significa o laicato católico; nunca foi usado em nenhum ensinamento oficial para se referir a hereges e/ou membros de seitas. Neste contexto, no entanto, o leitor deve entender que o significado do termo agora foi expandido para se referir a membros leigos das seitas cismáticas focianas (comumente chamadas de Ortodoxa Grega, Ortodoxa Russa, Ortodoxa Armênia, etc.). Os membros dessas seitas não são membros da Igreja Católica. Eles não estão unidos a seu bispo no mesmo sentido que os católicos estão unidos a seu bispo. Pois os bispos católicos são autoridades por direito divino, com verdadeira jurisdição; e como tal, todo bispo católico é o princípio de unidade dentro de sua diocese. Os bispos focianos são constituídos ilegalmente e não têm autoridade sobre ninguém. Eles não têm nenhum princípio de unidade, exceto os laços naturais da afeição humana que unem os membros de qualquer organização. Mas esses vínculos naturais não são suficientes para constituir a Igreja, nem a Igreja experimenta uma edificação ou crescimento dentro dessas seitas.


O Vaticano II também ensina que em suas celebrações eucarísticas, os cismáticos focianos acessam Deus Pai através do Filho, o Verbo feito carne (57). Mas, assim como é possível receber a Sagrada Comunhão em estado de pecado mortal e, por isso, merecer punição (58), também é possível celebrar a Missa de maneira que mereça punição. Toda missa celebrada fora da Igreja Católica é objetivamente pecaminosa, porque essas missas são um protesto público e uma rebelião aberta contra a autoridade divinamente designada do Romano Pontífice e contra a missão da Igreja Católica. E o que é objetivamente pecaminoso não é um meio de acesso a Deus Pai por meio do Filho.


As seitas focianas também não são “igrejas” nas quais ocorre a celebração da Santa Eucaristia. Unitatis Redintegratio No. 3 tenta apresentar esta novidade como se fosse um ensinamento tradicional, citando os Concílios de Latrão (IV), Lyon II e Florença como referindo-se a grupos cismáticos como ‘igrejas’. No entanto, esses concílios se referiam aos gregos como “igrejas” porque esses concílios se referem a eles como eram antes dos cismas ocorrerem ou depois que os cismas foram curados. Eles não estão se referindo aos gregos em sua condição atual de cisma como “igrejas particulares” dentro da Igreja de Cristo, como Bento XVI os chamou (59).


Tampouco é a tradição da concelebração na liturgia fócia uma manifestação de unidade. Pois algo sensível é apenas uma manifestação de alguma coisa imaterial se essa coisa imaterial existe em primeiro lugar. Mas a unidade não existe entre os vários grupos focianos. Portanto, a concelebração fócia não pode ser uma manifestação de unidade. Por exemplo, alianças de casamento são símbolos de casamento; mas se a pessoa não for verdadeiramente casada, o mero uso de alianças não manifestará um casamento.


25. Salvação por meio de seitas não católicas: Conclusão.


O erro da salvação pelas seitas não católicas está além do mero protestantismo. Enquanto Martinho Lutero encorajava as pessoas a pecar com ousadia, com a promessa de que somente a fé é necessária para a salvação, mesmo Lutero nunca afirmou que o Espírito Santo usa o pecado como meio de salvação. Este erro também está além do mero secularismo. Pois o secularismo está interessado puramente neste mundo e nesta vida. Deseja a supressão política do reinado social da Igreja Católica por meio da sanção da liberdade religiosa civil e do ecumenismo. Não está interessado em doutrinas pertencentes à bem-aventurança sobrenatural.


Com efeito, é o modernismo que está na base do erro da salvação por meio de seitas não católicas. No modernismo, qualquer culto em qualquer religião é bom porque é a expressão de sentimentos e necessidades interiores. No modernismo, toda doutrina, mesmo a falsa doutrina, é “verdadeira” porque é a projeção externa das convicções religiosas comunais de um povo. O Vaticano II nunca usa a linguagem das falsas religiões, falsas doutrinas, adoração ímpia ou seitas cismáticas. A razão é porque no modernismo não há referência objetiva à verdade ou bondade. Toda doutrina, adoração e moralidade são meras expressões da comunidade humana em evolução e podem ser expressões completas ou expressões menos completas. Elas nunca são capazes de serem objetivamente falsas ou pecaminosas.


Para o modernista, então, a salvação significa qualquer integração bem-sucedida de algum senso religioso comunitário com uma expressão externa. É por isso que o Vaticano II afirma que o falso culto religioso dá acesso à comunidade da salvação. Desta forma, a própria noção de salvação é reduzida a algo totalmente naturalista e até pagão.


Quarto erro — Negação da visibilidade e unidade da Igreja


26. Tese Católica. A Igreja Católica é idêntica à Igreja de Cristo, que é visível e una, e o princípio desta unidade é o Espírito Santo.


Credo Niceno-Constantinopolitano:

Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.


Sagrada Escritura:

Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte. (60)

Assim como num só corpo temos muitos membros, e nem todos os membros desempenham a mesma função, assim, ainda que muitos, somos um só corpo em Cristo, e todos, membros uns dos outros. (61)


Magistério: Papa Leão XIII, Satis Cognitum (1896); Papa Pio XII, Mystici Corporis (1943).

Com efeito, Jesus Cristo não instituiu uma Igreja que abarcasse várias comunidades de natureza semelhante, mas distintas em si mesmas, e carentes daqueles vínculos que tornam a Igreja única e indivisível do modo como no símbolo da nossa fé professamos: Eu creio em uma só Igreja. (62)


Estão pois longe da verdade revelada os que imaginam a Igreja por forma, que não se pode tocar nem ver, mas é apenas, como dizem, uma coisa “pneumática” que une entre si com vínculo invisível muitas comunidades cristãs, embora separadas na fé… Como membros da Igreja contam-se realmente só aqueles que receberam o lavacro da regeneração e professam a verdadeira fé, nem se separaram voluntariamente do organismo do corpo, ou não foram dele cortados pela legítima autoridade em razão de culpas gravíssimas. “Todos nós, diz o Apóstolo, fomos batizados num só Espírito para formar um só Corpo, judeus ou gentios, escravos ou livres”. Portanto como na verdadeira sociedade dos fiéis há um só corpo, um só Espírito, um só Senhor, um só batismo, assim não pode haver senão uma só fé, e por isso quem se recusa a ouvir a Igreja, manda o Senhor que seja tido por gentio e publicano. Por conseguinte os que estão entre si divididos por motivos de fé ou pelo governo, não podem viver neste corpo único nem do seu único Espírito divino. (63)


Raciocínio teológico: O que está desunido não existe, visto que não é uma coisa, pois a unidade é conversível com o ser. Mas a Igreja Católica existe. Portanto, a Igreja Católica tem unidade.


Para ilustrar esse ponto, devemos fazer uma distinção entre ser uma coisa e tornar-se uma coisa. Quando uma coisa tem ser, ela também tem unidade. Se eu afirmo que meu cachorro existe, também estou afirmando que meu cachorro tem ser e é uma coisa única e unificada. Mas quando uma coisa está se tornando outra coisa, isso significa necessariamente que ela ainda não existe como essa coisa, nem tem unidade como essa coisa. Por exemplo, se eu afirmo que estou me tornando padre, estou necessariamente afirmando que atualmente não sou padre, ou seja, que não tenho nenhum ser como padre e que não tenho unidade como padre.


Como veremos, o Vaticano II afirma tanto que a Igreja está unida, como também é impelida para a unidade, isto é, tornar-se unida. Mas isso é o mesmo que dizer que a Igreja existe, e que a Igreja também está se tornando Igreja. É o equivalente a afirmar que sou padre e que também estou me tornando padre, ou que meu cachorro existe, e que meu cachorro também está se tornando um cachorro. Isso é uma contradição.


27. Vaticano II: Lumen Gentium, 8.


Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica; depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse, confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo, e erigindo-a para sempre em “coluna e fundamento da verdade”. Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele, embora, fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica.


RÉPLICA. Quando Nosso Senhor apareceu a Saulo na estrada para Damasco, Ele não disse: “Saulo, Saulo, por que persegues a estrutura visível na qual minha Igreja subsiste?” Ele disse: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (64) Isso porque não há distinção entre o Corpo Místico de Cristo e a Igreja. Todos os católicos são obrigados a afirmar que são uma e a mesma coisa (65). A distinção que o Vaticano II faz entre o conceito abstrato “Igreja de Cristo” e a realização concreta e visível deste conceito na sociedade da “Igreja Católica” é uma falsa distinção que não se encontra em nenhum lugar do ensinamento católico. Há apenas uma Igreja visível: a Igreja Católica.


Santificar algo é torná-lo santo. Mas nada é santificado, exceto pela graça santificante. E a fonte de toda graça é Cristo. Mas a graça de Cristo não é aplicada aos homens, exceto por meio da Igreja Católica. E a Igreja Católica é por natureza uma organização visível. Portanto, todas as coisas são santificadas por meio da sociedade visível que é a Igreja Católica. Não há ‘elementos de santificação’ fora da estrutura visível da Igreja (66). De fato, não existem tais coisas como “elementos” de santificação. A santificação é algo binário: alguém é santificado e, simultaneamente, membro da Igreja visível, ou não. Não pode ser dividido em elementos constitutivos. É como ser um cidadão dos Estados Unidos. Alguém é cidadão dos Estados Unidos [visível] ou não. Não existe algo como ter elementos de cidadania.


OBJEÇÃO. “Subsiste em” pode ser interpretado como significando a mesma coisa que “é”. Ao interpretar documentos ambíguos, devemos favorecer a interpretação católica. Portanto, este trecho pode ser interpretado no sentido de que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica.


RÉPLICA. Na Igreja, a doutrina deve ser interpretada da maneira que a autoridade a interpreta. Em 2007, a Congregação para a Doutrina da Fé sob Bento XVI foi questionada por que a frase “subsiste em” foi usada em vez da palavra “é”, que foi usada pelo Papa Pio XII (67). A Congregação evitou a pergunta. Seguindo o exemplo da Lumen Gentium, a Congregação simplesmente ensinou que ‘subsiste em’ significava ‘identidade plena’, com o entendimento de que existem gradações menores de identidade, e que essas gradações incluem seitas não católicas contendo elementos de santificação e verdade que impulsionam para unidade católica (68). Ora, se os elementos da Igreja de Cristo estão impelindo em direção à unidade, então a Igreja de Cristo não pode ser unida agora. É meramente tornar-se unido. E se não estiver unido agora, então está desunido. Mas a Igreja Católica não está desunida. Portanto, de acordo com o comunicado oficial emitido com a aprovação explícita de Bento XVI, a Igreja de Cristo não pode ser a mesma que a Igreja Católica.


Aqueles que professam que a autoridade dos “papas” do Vaticano II é uma verdadeira autoridade devem concordar com este ensinamento. Eles não têm a liberdade de aderir a uma interpretação contrária a ela. Aqueles que afirmam que “subsiste em” significa “é” estão adotando uma posição contrária ao Vaticano II, João Paulo II (69) e Bento XVI. Francisco insistiu neste ponto quando disse: “Ou vós estais com a Igreja e, portanto, segue o Concílio, e se vós não segues o Concílio ou o interpreta à sua maneira, como deseja, vós não estais com a Igreja. Devemos ser exigentes e rigorosos neste ponto” (70).


OBJEÇÃO. O Papa Clemente XI condenou a proposição de Quesnel de que não há graça dada fora da igreja (71). Mas a graça é um elemento de santificação. Portanto, existem elementos de santificação fora da igreja.


RÉPLICA. De fato, o término de muitas graças está fora da Igreja; caso contrário, ninguém jamais se converteria e se tornaria membro da Igreja, e não haveria demérito por não cooperar com a graça. No entanto, enquanto a graça é dirigida para fora da Igreja, o doador dessa graça é Cristo, que a dá por meio da Igreja. O Papa Pio XII ensinou, “era possível para Ele mesmo conceder essas graças diretamente à humanidade; mas Ele quis fazê-lo apenas através de uma Igreja visível composta de homens” (72).


OBJEÇÃO. O Vaticano II está ensinando que as forças que impulsionam a unidade católica que se encontram fora da estrutura visível são as graças que dispõem as almas para a santificação e unidade com a Igreja. A razão pela qual o Vaticano II ensina que elas não são encontradas nas estruturas visíveis da Igreja é que elas realmente não santificam ou causam a adesão à Igreja, mas elas dispõem ou impelem as almas à santificação e à unidade.


RÉPLICA. O Vaticano II diz explicitamente que as forças que impulsionam para a unidade que se encontram fora da estrutura visível são elementos de santificação. O ensinamento católico é que as graças que dispõem as almas para a santificação (e, consequentemente, as impelem à unidade com a Igreja) não são graças santificantes, mas graças atuais. Estas últimas graças não tornam uma pessoa um membro da Igreja; elas simplesmente dispõem uma pessoa para a adesão. É impossível estar em estado de graça santificante a não ser que já seja membro da Igreja pelo menos in voto (por desejo). Portanto, é impossível que existam elementos de santificação fora da Igreja.


OBJEÇÃO. O Vaticano II está apenas dizendo que há algumas pessoas que carecem de marcas visíveis de pertença à Igreja, mas que ainda estão em estado de graça. Essas são as pessoas fora das estruturas visíveis que são impelidas à unidade.


RÉPLICA. Se alguém se encontra em estado de graça, mesmo que lhe faltem as marcas visíveis da pertença, necessariamente já é membro da Igreja in voto (por desejo). Ele não é impelido para a unidade, pois já tem a unidade. Ele é impelido às marcas visíveis da adesão: a profissão de fé, os sacramentos e a submissão ao Romano Pontífice.


OBJEÇÃO. Os sacramentos válidos existem fora da Igreja. E sacramentos válidos santificam. Portanto, elementos de santificação existem fora da Igreja.


RÉPLICA. Sacramentos válidos são frequentemente administrados fora da Igreja. Salvo casos de extrema necessidade, esses sacramentos são pecados. Administrá-los é contra a lei divina, pois o administrador cismático do sacramento não tem missão divina. Recebê-los é uma espécie de communicatio in sacris: comunicar-se em assuntos divinos com ministros ilícitos. É impossível ser santificado por meio do pecado. Portanto, não existem elementos de santificação fora da Igreja.


Ora, aqueles em estado de graça podem ser invencivelmente ignorantes sobre o fato de que tais sacramentos são administrados pecaminosamente. Isso significa que, sem culpa própria, eles simplesmente não sabem, e não podem saber, que o sacramento está sendo administrado de forma pecaminosa. É o caso, por exemplo, das crianças menores de idade da razão. Nesse caso, a culpa do pecado não é imputada a essa pessoa. Se essas almas recebem alguma graça ao receberem o sacramento, não é pela pecaminosidade da ação, mas pela misericórdia de Deus, que as perdoa apenas porque “não sabem o que fazem” (73). O sacramento confere a graça santificante ao destinatário não por causa da ilicitude do ato, mas por causa da disposição do destinatário, que não sabe e não pode saber que o que está fazendo é errado. No entanto, em si mesmos, os sacramentos administrados pelos cismáticos não são elementos de santificação, como afirma o Vaticano II, mas sim pecados (74).


Os sacramentos são propriedade exclusiva da Igreja Católica. Eles não são encontrados fora da Igreja, exceto como itens roubados. Assim como seria errado pagar e aceitar dinheiro roubado, também é errado administrar e receber sacramentos de ministros cismáticos. E algo que está errado não pode ser um elemento de santificação. Ninguém diria que o dinheiro roubado é um elemento que impele à união entre o ladrão e o homem que foi roubado pelo ladrão. Assim como o ladrão deve se arrepender e restituir seus atos perversos, o ministro cismático deve se arrepender e restituir os seus. Se há santificação num sacramento conferido por um ministro cismático, não é porque foi conferido em contexto cismático, mas porque a disposição particular do recebedor é tal que não se imputa culpa (por exemplo, se alguém for menor de idade ou invencivelmente ignorante).

Depois que muitos clérigos franceses assinaram a cismática Constituição Civil do Clero (1790), surgiu a questão se os fiéis poderiam se aproximar deles para o batismo. O Papa Pio VI respondeu da seguinte maneira:


Não é permitido receber o batismo do clero intruso senão em casos de extrema necessidade e se não se encontrar ninguém para batizar; o sacramento deve ser conferido pelo clero legítimo ou por outros munidos de sua permissão.


Pois, como o pastor intruso é certamente cismático, e seu cisma é óbvio, segue-se que a ação de um católico que se dirige ao clérigo intruso para a administração do batismo é, sob todos os pontos de vista, viciosa, má e proibida; com efeito, isso seria comunicar-se com os cismáticos em assuntos divinos e na própria maldade do cisma, que é por sua própria natureza um mal e, portanto, proibido pela lei natural, bem como pela divina. (75)


Ora, algo que é vicioso, mau, perverso e proibido pela lei natural e divina não pode ser um elemento de santificação.


28. Vaticano II: Lumen Gentium, 9.


Aos que se voltam com fé para Cristo, autor de salvação e princípio de unidade e de paz, Deus chamou-os e constituiu-os em Igreja, a fim de que ela seja para todos e cada um sacramento visível desta unidade salutar.


RÉPLICA. A Igreja não consiste apenas daqueles que têm a virtude da fé. A virtude da fé é invisível. Portanto, um conjunto de pessoas que têm fé não constitui a Igreja visível. Constitui um grupo de pessoas com uma qualidade invisível, e nada mais.

O fato de o Vaticano II identificar essa coleção de pessoas “que com fé se voltam para Jesus” como a Igreja é o equivalente a dizer que a Igreja é invisível. Mas a Igreja é por natureza visível. Portanto, a Igreja não consiste naqueles que com fé se voltam para Jesus. A Igreja consiste nos católicos batizados em união e submissão ao Romano Pontífice, em comunhão e profissão de fé católica (76). Estas são as coisas sensíveis que constituem a Igreja como uma sociedade visível.


29. Negação da visibilidade e unidade da Igreja: Conclusão.


Este erro é a justificação intelectual do ecumenismo (77). Pois se não é mais pecado para os católicos fabricar unidade visível com seitas não católicas, como sustenta a heresia do ecumenismo, segue-se que atualmente não há unidade visível. A Lumen Gentium oferece a negação lógica daquela unidade necessária para que o ecumenismo faça sentido.


Na Lumen Gentium, a Igreja de Cristo é apresentada como uma organização invisível composta por cristãos católicos e não católicos, todos aqueles que “com fé se voltam para Jesus” e desejam progredir rumo à unidade e à paz. A Igreja Católica, ao contrário, é apresentada como um complexo de componentes visíveis e organizacionais sobrepostos à invisível “Igreja de Cristo” como uma manifestação particular desse espírito, uma manifestação que tem a “plenitude” da Igreja de Cristo, mas é não exclusivamente idêntica a ela.


O Código de Direito Canônico de 1983 incorpora essa heresia por sua nova distinção entre christi fideles catholici (Cân. 844) e christi fideles (Cân. 204), ou “os fiéis cristãos católicos” e “os fiéis cristãos”. Os primeiros pertencem à organização visível (“Igreja Católica”), e os últimos pertencem à organização invisível (“Igreja de Cristo”).


Ao negar a identidade exclusiva da Igreja de Cristo com a Igreja Católica, o Vaticano II coloca a Igreja Católica no mesmo nível de qualquer seita. Em relação às seitas não católicas, segundo o Catecismo Romano, “é necessário que estejam sujeitas aos mais perniciosos erros de doutrina e de moral, pois são conduzidas pelo espírito do demônio” (78). Mas a infalível e indefectível Igreja Católica nunca pode ser movida pelo menor erro doutrinal ou moral, nem pode ser guiada pelo espírito do diabo. Portanto, a Igreja Católica não é uma seita cristã, mas sim o único e verdadeiro Corpo Místico de Cristo, a Igreja do Deus vivo, “coluna e fundamento da verdade” (79).


Quinto erro — Comunhão parcial


30. Tese Católica: A unidade da Igreja é a nota pela qual é exclusiva de todas as outras sociedades.


Sagrada Escritura:

Quem não é comigo, é contra mim; e quem não junta comigo, derperdiça. (80)

Se os não ouvir, dize-o à Igreja. Se não ouvir a Igreja, considera-o como um gentio e um publicano. (81)


Que concórdia entre Cristo e Belial? Que de comum entre o fiel e o infiel? (82)



Magistério: Papa São Leão Magno, Sermão CXXIX; Papa Pio IX, Etsi Multa (1873); Papa Leão XIII, Satis Cognitum (1896).


Portanto, uma vez que fora da Igreja Católica não há nada imaculado, declarando o Apóstolo que “tudo o que não é de fé é pecado”, de modo algum somos comparados aos que estão separados da unidade do Corpo de Cristo; estamos unidos em comunhão. (83)

Donde se conclui que desta Sé Apostólica onde Pedro vive e preside e concede a todos os que a procuram as verdades da fé, emanam todos os direitos da sagrada comunhão; e esta mesma Sé “é certamente para as outras igrejas espalhadas pelo mundo o que a cabeça é para os outros membros do corpo, e quem assim se separa desta Sé torna-se um estranho à religião cristã, uma vez que deixa de fazer parte de sua estrutura. (84)


Com efeito, Jesus Cristo não instituiu uma Igreja que abarcasse várias comunidades de natureza semelhante, mas distintas em si mesmas, e carentes daqueles vínculos que tornam a Igreja única e indivisível do modo como no símbolo da nossa fé professamos: Eu creio em uma só Igreja. (85)


31. João Paulo II: Dominus Iesus, 17.


Portanto, a Igreja de Cristo está presente e atuante também nestas Igrejas [Ortodoxas Orientais], embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja Católica. (86)


RÉPLICA. A Igreja de Cristo é idêntica à Igreja Católica. São dois termos que significam exatamente a mesma coisa. Agora, as seitas ortodoxas orientais (focianas) não são membros da Igreja Católica. Portanto, a Igreja de Cristo não está presente e operante nas igrejas cismáticas focianas. Pois uma coisa não pode estar presente e operante e, ao mesmo tempo, carecer de existência. Por exemplo, se os militares dos EUA estão presentes e operando no Oceano Pacífico, segue-se necessariamente que eles existem no Oceano Pacífico. Se a Igreja de Cristo está presente e atuante nas seitas cismáticas, isso quer dizer que ela existe nas seitas cismáticas. Isso é um erro.


O erro sobre a Igreja de Cristo estar parcialmente em seitas cismáticas originou-se do teólogo protestante Oscar Cullmann (1902–1999). Cullmann foi aluno do modernista Alfred Loisy (87). Ele também foi um ecumenista ao longo da vida e amigo pessoal de Paulo VI. Ele esteve presente oficialmente no Vaticano II apenas como observador; no entanto, na ordem prática, ele era um consultor teológico para os redatores dos esquemas. Ele esposou a ideia de uma escatologia inaugurada, na qual o ‘evento-Cristo’, que ele também chamou de ‘Mistério Pascal’, inaugura uma era em que o reino de Deus está em um estágio de incompletude; está em união parcial com Cristo, mas progredindo em direção à união completa, e só estará totalmente unida a Ele no eschaton, ou no fim dos tempos. Cullmann negou que Cristo tenha estabelecido um reino perfeito; ao contrário, ele afirmou que Cristo só tinha uma ideia de um reino que até hoje permanece em um estado de imperfeição. Ele via a Igreja Católica como uma seita equivalente aos focianos e protestantes, que estava colaborando com eles para a perfeição do reino. O ecumenismo, para Cullmann, era a maneira pela qual o reino se esforça e geme em direção à sua conclusão final, que consistirá em uma unidade fabricada de todas as seitas religiosas umas com as outras e com Deus. Lumen Gentium expressa exatamente a mesma ideia:


Desta fonte [o Espírito], a Igreja… recebe a missão de anunciar e difundir a todos os povos o Reino de Cristo e de Deus e ser o primeiro rebento desse reino. Enquanto cresce lentamente, a Igreja se esforça em direção ao Reino completo e, com todas as suas forças, esperanças e desejos, para se unir na glória com seu Rei. (88)


32. João Paulo II: Ut Unum Sint, 14.


Segundo a grande Tradição atestada pelos Padres do Oriente e do Ocidente, a Igreja Católica crê que, no acontecimento do Pentecostes, Deus já manifestou a Igreja na sua realidade escatológica, que Ele preparava “desde o tempo de Abel, o justo”. Ela já está presente. Por este motivo, já nos encontramos no fim dos tempos. Os elementos desta Igreja, já presente, existem, incorporados na sua plenitude, na Igreja Católica e, sem tal plenitude, nas outras Comunidades, onde certos aspectos do mistério cristão foram, por vezes, mais eficazmente manifestados. O ecumenismo busca precisamente fazer crescer a comunhão parcial existente entre os cristãos até à plena comunhão na verdade e na caridade.


RÉPLICA. Pentecostes foi o nascimento da Igreja Católica. Não foi um evento no qual surgiu uma pluralidade de seitas com graus variados de plenitude ecumênica, para se unirem nos últimos tempos. Os elementos do mistério cristão nunca, em nenhum momento da história, foram mais efetivamente enfatizados nas seitas não católicas do que na Santa Igreja Católica. Insinuar que outras religiões são mais eficazes no ensino da fé do que a Igreja Católica é uma blasfêmia.


O ecumenismo não é o meio pelo qual a Igreja se une plenamente àquelas comunidades com as quais agora está apenas parcialmente unida. A Igreja não está parcialmente unida a nenhuma outra sociedade religiosa. É exclusiva de todas as outras sociedades religiosas e sempre permanecerá assim.


Tanto Lumen Gentium quanto Ut Unum Sint contêm erros que são logicamente derivados do erro de Cullmann sobre a escatologia inaugurada. A Declaração de Abu Dhabi de Francisco, também conhecida como Documento sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Convivência (2019), na qual se afirma que Deus deseja uma pluralidade de religiões, está em perfeito acordo com os erros da escatologia inaugurada e da comunhão parcial.


33. Comunhão parcial: Conclusão.

Vimos acima que o modernismo sustenta que não existe algo como erro, mas apenas gradações de verdade. Sustenta que não existe o mal, mas apenas gradações de bondade. Sustenta que não existe condenação, mas apenas gradações de salvação. De acordo com essas noções, os autores do Vaticano II inventaram a noção de comunhão parcial, na qual não existe algo como estar fora da Igreja, mas apenas gradações de pertença, que vão do total ao parcial.


O ensinamento católico é que a comunhão com a Igreja é algo binário, como estar em estado de graça. A pessoa está em estado de graça ou não; não existe um estado de graça parcial. O mesmo acontece com a condição de membro da Igreja. A pessoa é membro da Igreja ou não.

Sob a rubrica do ecumenismo, todas as religiões devem trabalhar em conjunto para fabricar uma unidade religiosa secular. Esta unidade não tem nada a ver com Deus ou o cristianismo. É apenas uma homogeneização cultural, o cumprimento de ideologias liberais maçônicas que datam do período do Iluminismo. Tem um objetivo: a eliminação gradual de todas as distinções religiosas até que reste apenas uma religião, a “religião” do humanismo sem dogmas. A comunhão parcial é uma declaração política de progresso em direção à coalescência religiosa, que é um prelúdio necessário para o estado secular absoluto.


Conclusão — A síntese de todas as heresias


31. O modernismo do Vaticano II.


Nesta avaliação dos erros do Vaticano II, obtém-se uma visão do espírito do modernismo que se espalhou por todo o clero católico do século XX após a morte de São Pio X. O modernismo é uma heresia multifacetada, que busca descreditar a Igreja Católica em todas as áreas: teologia, filosofia, história, direito, liturgia, Escritura, apologética, etc. Para concluir este artigo, examinaremos brevemente a influência do modernismo em cada um dos erros acima descritos.


O modernismo deriva do liberalismo. Todos os liberais rejeitam a noção de que o governo civil é obrigado a aceitar a revelação divina suficientemente proposta, afirmando, em vez disso, que deve permanecer neutro em relação à revelação divina. O liberalismo começa com a premissa de que o governo civil deve ser neutro em relação à religião, não fazendo distinção entre boas ou más religiões; deve conceder liberdade a todas as numerosas religiões existentes no seu território, permitindo-lhes exercer abertamente a sua fé, desde que não perturbem a ordem pública. Assim, vemos no Vaticano II a ousada proclamação do direito à liberdade religiosa, que o Papa Gregório XVI chamou de loucura.


O liberalismo é sempre favorável ao ecumenismo. Isso porque, onde quer que a liberdade religiosa seja consagrada na lei, a pluralidade das religiões necessariamente causa conflito. Este conflito enfraquece a força do estado. Para aliviar esse conflito, em vez de favorecer a religião católica como solução, o liberalismo favorece o ecumenismo como solução: a fusão gradual das religiões em uma unidade com o objetivo de eliminar todas as diferenças e aliviar todos os conflitos civis. O modernista é rápido em apoiar este projeto, pois acredita que todas as religiões brotam do mesmo subconsciente interior da humanidade, então sua coalescência não representa um problema a ele. Daí vemos no Vaticano II a promulgação do ecumenismo, o qual o Papa Pio XI chamou de um erro tão grande que destruiria totalmente os fundamentos da fé católica. Os modernistas acreditam que todas as religiões são verdadeiras. Isso ocorre porque, no modernismo, a religião é o que as pessoas acham que ela é. Como resultado, o modernismo também acredita que todas as religiões são fundamentalmente boas e salvíficas. Assim, vemos no Vaticano II a promulgação da salvação por meio de seitas não católicas, a qual o Papa Gregório XVI chamou de erro mortal. Por esta razão, também a doutrina da salvação universal (condenada no século VI pelo Papa Vigílio (89) é pregada em quase toda parte no Novus Ordo hoje.


Os modernistas acreditam que existem duas “Igrejas”: uma Igreja invisível e uma Igreja visível. A Igreja invisível é simplesmente uma ideia que Cristo teve há muito tempo sobre a união da raça humana, mas que ainda não foi realizada de maneira visível. Todos os homens são membros desta Igreja invisível. A Igreja visível é uma tentativa dos apóstolos e católicos de tornar presente a “ideia do reino” original por meio da doutrina, da liturgia e da lei. Mas não é necessariamente uma realização permanente ou estável. Está em estado de evolução. Por meio do ecumenismo, torna-se a realização última daquilo que Cristo pretendia. Por isso vemos no Vaticano II a negação da unidade e da visibilidade da Igreja, a qual o Papa Pio XII chamou de erro em matéria de verdade divina.


Os modernistas afirmam que a Igreja de Cristo (a Igreja invisível) se realiza plenamente na Igreja católica visível. Mas realiza-se parcialmente na pluralidade das diversas seitas religiosas. A correspondência entre a “ideia” originária do reino e as seitas não católicas é imperfeita, mas essa imperfeição é, no entanto, válida porque é uma expressão do sentido religioso subjetivo. Para o modernista, diferentes religiões são como diferentes peças musicais. Assim como não há distinção significativa entre amantes de Tchaikovsky e amantes de Bach, exceto para dizer que Bach é melhor que Tchaikovsky, o modernismo não faz distinção significativa entre a Igreja e seitas não católicas, exceto para dizer que uma é melhor que a outra. Assim, vemos no Vaticano II a doutrina da comunhão parcial, na qual se diz que as seitas não católicas existem em uma escala graduada de comunhão parcial com a Igreja Católica, na qual elementos da Igreja invisível de Cristo estão presentes e operantes, embora deficientes. Compare isso com o ensinamento do Papa Leão XIII, que ensinou que aqueles que rejeitam a doutrina ou a autoridade católica são rebeldes, expulsos das fileiras de seus filhos e banidos do seio da Igreja (90).


Os modernistas parecem ser católicos, mas não são católicos. Eles desprezam os ensinamentos da Igreja e tentam por todos os meios enganar os católicos para que rejeitem a fé e abracem os erros do protestantismo e do secularismo. Nas palavras de São Pio X: “Imbuídos de doutrinas venenosas ensinadas pelos inimigos da Igreja”, o objetivo deles é “subverter totalmente o reino de Cristo”. Eles atingem a raiz da própria fé; eles têm se esforçado para coletar todas as heresias condenadas e condensá-las todas em um sistema diabólico de mentiras. Não há parte da verdade católica que eles deixem intocada, “nenhuma que eles não tentem corromper. Além disso, ninguém é mais habilidoso, nem mais astuto do que eles, no emprego de mil artifícios nocivos; pois eles desempenham o papel duplo de racionalistas e católicos, e isso com tanta astúcia que facilmente levam os incautos ao erro; e como a audácia é sua principal característica, não há conclusão de qualquer tipo da qual eles se esquivem ou que não apresentem com pertinácia e segurança” (91). Eles desprezam toda autoridade exceto a si mesmos e, via de regra, são um muro de pedra que resiste a todo arrependimento e conversão.


Esposa de Cristo, a Santa Igreja Católica é uma fonte de pureza, santidade e verdade que nunca pode propor aos seus filhos absurdos, impiedades ou erros. O Vaticano II é uma coleção de documentos cheios de absurdos, impiedades e erros imbuídos do espírito do modernismo. Nenhum católico pode consentir, interna ou publicamente, sem prejuízo da infusa virtude da fé dada no batismo. Professar o Vaticano II como doutrina católica equivale a professar que a Igreja é uma seita falível e defeituosa e, como tal, não possui mais nenhum motivo de credibilidade.


Nenhum católico pode rejeitar um concílio ecumênico, pois concílios ecumênicos são ensinamentos da Igreja universal que não podem errar. No entanto, o que torna um concílio ecumênico válido e obrigatório é sua promulgação pelo Romano Pontífice; portanto, a própria virtude da fé obriga todos os católicos a rejeitar a noção de que o Vaticano II foi promulgado por um Romano Pontífice. Que Deus conceda a todos os católicos que se esforcem diligentemente para estudar os ensinamentos da Igreja, para que o veneno do Vaticano II seja facilmente discernido e rejeitado por todos.


Sancte Pie X, ora pro nobis. Tertia Nonas Septembris, A.D. MMXXII


Notas:

1. Rev. Denis Fahey, CSs.P., The Mystical Body of Christ in the Modern World, Waterford, Ireland: Browne and Nolan Ltd., 1938, pp. 13–14.

2. Na ordem prática, por causa da influência do modernismo no Vaticano II, o erro do Darwinismo tornou-se um dogma quase universal nos ambientes educacionais da estrutura do Novus Ordo.

3. Papa São Pio X, Pascendi (1907).

4. Ex XX, 3.

5. Papa Pio IX, Quanta Cura (1864).

6. Dignitatis Humanae, 4.

7. 2Rs XXIII, 24–25.

8. 1Rs XV, 9–15.

9. 1Rs XI, 31–33.

10. Ex XXXII, 28.

11. João Paulo II, Redemptoris Missio, No. 9 (Dezembro 7, 1990).

12. Papa São Pio X, Pascendi (1907).

13. Papa Pio IX, Nunquam fore (1856).

14. Ju II, 1–4.

15. 2Cor VI, 14–18.

16. Papa Pio XI, Mortalium Animos (1928).

17. Gn II, 24.

18. Em sua obra Introdução ao Cristianismo (1969), Pe. Joseph Ratzinger expressa o mesmo sentimento: “Todos sabem, é verdade, que a ‘oração sacerdotal’ de Jesus (Jo 17), da qual estamos falando, é o caráter básico de todos os esforços pela unidade da Igreja… a unidade dos cristãos é antes de tudo a unidade com Cristo , que se torna possível onde cessa a insistência na própria individualidade e é substituída pelo puro e sem reservas estar com Cristo, que entra completamente na abertura daquele que quis não se apegar a nada da própria individualidade, segue a completa ’união  —  ‘para que todos sejam um, assim como nós somos um’. Toda não-unidade, toda divisão, repousa sobre uma falta oculta de verdadeira Cristandade, sobre um apego à individualidade que impede a coalescência na unidade”. Traduzido por J.R. Foster, Communio Press, Ignatius Books, San Francisco, 2004 (originalmente publicado em 1968), p. 108.

19. A ideia pela qual a liturgia manifesta um processo de unificação aparece quase imediatamente no Vaticano II, no segundo parágrafo do primeiro decreto, Sacrosanctum Concilium. Aqui, a sagrada liturgia é descrita como “um sinal levantado entre as nações sob o qual os filhos de Deus dispersos podem ser reunidos até que haja um aprisco e um pastor”. Essa ideia de unidade ecumênica progressiva foi importada para as recém-compostas Orações Eucarísticas II e III na Missa Novus Ordo (1969), como prova sua necessidade aparentemente compulsiva de mencionar o mesmo tema: reunir os povos dispersos, tornando-se um só corpo, promovendo a paz e a salvação do mundo, permanecendo na presença de Deus como família, reunindo povos, participando comunalmente e reunindo-se em um, etc.

João Paulo II disse que a Igreja deseja “que a autêntica comunidade eucarística se torne um sinal da unidade gradualmente amadurecida de todos os cristãos” (Redemptor Hominis, 20, 1979).

20. Em 1949, o Santo Ofício emitiu uma instrução relativa ao movimento ecumênico, na qual permitia, sob normas muito rígidas supervisionadas pelo Ordinário local, reuniões de padres católicos competentes com não católicos para discutir assuntos religiosos, com a fundada esperança de que alguns deles se converterão. Isso é diferente do ecumenismo do Vaticano II, que busca a união religiosa mútua.

21. Papa Pio XI, Mortalium Animos (1928).

22. Sagrada Penitenciária Apostólica, 16 de julho de 1926.

23. O Papa Pio IX condenou a proposição de que os Pontífices Romanos, por sua conduta arbitrária, contribuíram para o cisma de Fócio (Syllabus dos Erros, 1864).

24. Instâncias notáveis desse pedido de desculpas corporativo incluem a Declaração Católico-Ortodoxa de Paulo VI (1965), a visita de João Paulo II a Jerusalém (2000) e, mais recentemente, o pedido de desculpas de Francisco aos indígenas canadenses (2022). Paulo VI também se referiu às “faltas” (i falli) da Igreja na Ecclesiam suam n. 99 (1964).

25. Papa Gregório XVI, Mirari Vos (1832).

26. Unitatis Redintegratio, 3.

27. Sess. XII, Constituti.

28. Cf. Benedictus Henricus Merkelbach, O.P, Summa Theologiae Moralis, I. De Principiis, Desclée de Brouwer, Bruges, Ed. XI, 1962: nº 754; Santo Tomás de Aquino, ST II-II.10.9; CIC (1917), Cân. 1258.

29. Nm XVI. Moisés os excomungou, e a terra os engoliu vivos.

30. 1Rs XVIII, 17–40. Elias matou todos os falsos profetas no ribeiro Quisom.

31. Vaticano II, Unitatis Redintegratio, 3.

32. Ibid.

33. Concílio de Florença, Decretum pro Armenis, Exsultate Deo, 1439 (Dz. 696).

34. Dz. 705.

35. Dz. 714.

36. Vaticano II, Unitatis Redintegratio, 3.

37. A Enciclopédia Católica, Vol. V, Encyclopedia Press, Inc., Nova York, 1913: Donatists, p. 127.

38. St. Agostinho, In Ps 33, Enn. II, Sermão II, 29.

39. Dt V, 8–9.

40. Is XLVI, 6–7.

41. Ap XXI, 8.

42. Credo Atanasiano.

43. Papa Bonifácio VIII, Unam Sanctam (1302).

44. Concílio de Florença, Decreto Pro Jacobitis 1438–1445 (Dz. 714).

45. Papa Gregório XVI, Mirari Vos (1832).

46. Papa Gregório XVI, Summo Jugitur (1832).

47. Papa Pio IX, Singulari Quadam (1854).

48. Papa Pio IX, Quanto Conficiamur Moerore (1863).

49. Papa Pio IX, Iam Vos Omnes (1868).

50. Papa Pio XI, Mortalium Animos (1928).

51. Este ensinamento é repetido por João Paulo II na Redemptor Hominis (1979) e Catechesi Tradendae(1979); neste último documento, acrescenta que isto deve ser ensinado aos catecúmenos.

Também é repetido por Bento XVI em Respostas a algumas questões relativas a certos aspectos da doutrina sobre a Igreja No. 3 (2007).

52. O Concílio de Florença ensinou: A unidade do corpo da Igreja é de tão grande importância que somente para aqueles que permanecem nela os sacramentos da Igreja são proveitosos para a salvação (Decretum pro Jacobitis, Cantate Domino, Dz. 714).

53. Papa Pio IX, Quanto conficiamur moerore (1863).

54. Ibid.

55. Fora da Igreja não há salvação.

56. Ibid.

57. O mesmo erro é repetido por João Paulo II na Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre alguns aspectos da Igreja entendida como Comunhão No. 17 (1992) e por Bento XVI em Respostas a algumas perguntas sobre alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja No. 4 (2007).

58. 1Cor XI, 29.

59. Bento XVI, Respostas a algumas perguntas sobre certos aspectos da doutrina sobre a Igreja No. 4 (2007). Neste documento, chamar os cismáticos de “igrejas particulares” é referido como um ensinamento tradicional.

60. Mt V, 14.

61. Rm XII, 4–5.

62. Papa Leão XIII, Satis Cognitum (1896).

63. Papa Pio XII, Mystici Corporis (1943).

64. Act IX, 4.

65. Papa Pio XII, Humani Generis (1950): Alguns não se consideram obrigados a abraçar a doutrina que há poucos anos expusemos numa encíclica e que está fundamentada nas fontes da revelação, segundo a qual o corpo místico de Cristo e a Igreja católica romana são uma mesma coisa. Outros reduzem a uma fórmula vã a necessidade de pertencer à Igreja verdadeira para conseguir a salvação eterna. E outros, malmente, não admitem o caráter racional da credibilidade da fé cristã.

Sabemos que esses e outros erros semelhantes serpenteiam entre alguns filhos nossos, desviados pelo zelo imprudente ou pela falsa ciência.

66. Nostra Aetate No. 2 ensina o erro de que há coisas sagradas nas religiões não católicas, o que é semelhante ao erro da Lumen Gentium.

Nostra Aetate No. 4 ensina o erro de que os não-católicos podem dar testemunho de Cristo derramando seu sangue. Contra isso, o Concílio de Florença ensinou que, mesmo que alguém tenha derramado seu sangue pelo nome de Cristo, não pode ser salvo a menos que permaneça no seio e na unidade da Igreja Católica (Dz. 714).

67. Papa Pio XII, Mystici Corporis (1943): O Corpo Místico de Cristo e a Igreja Católica Romana são uma e a mesma coisa.

68. Bento XVI, Respostas a algumas perguntas sobre certos aspectos da doutrina sobre a Igreja No. 3 (2007).

69. Cf. João Paulo II, Dominus Iesus, No 17.

70. Francisco, Aos participantes do encontro promovido pelo Departamento Nacional de Catequese da Conferência Episcopal Italiana, 30 de janeiro de 2021.

71. Bula Unigenitus, Setembro 8, 1713: Dz. 1379.

72. Papa Pio XII, Mystici Corporis (1943).

73. Lc XXIII, 34.

74. O Concílio de Florença ensinou: A unidade do corpo da Igreja é de tão grande importância que somente para aqueles que permanecem nela os sacramentos da Igreja são proveitosos para a salvação (Decretum pro Jacobitis, Cantate Domino, Dz. 714).

75. Instrução Laudabilem majorum aos bispos franceses, 26 de setembro de 1791. Dos Ensinamentos Papais: A Igreja, Selecionada e Organizada pelos Monges Beneditinos de Solesmes, trad. Por Madre E. O’Gorman, R.S.C.J., Daughters of St. Paul, Boston, 1962, p. 87.

76. Pastor Aeternus, Concílio do Vaticano (1870).

77. Que este erro foi a justificativa para o ecumenismo foi explicitamente afirmado pela Comissão Doutrinária para o esquema De Ecclesia. Comentando a passagem referente aos elementos de santificação fora da Igreja, a Comissão disse: “Nisto precisamente [elementos de santificação] se fundamenta o princípio do movimento ecumênico” (Francisco Gil Hellín, Lumen Gentium. Constitutio Dogmatica De Ecclesia Concilii Vaticani II Synopsis in ordinem redigens schemata cum relatedibus necnon patrum orationes atque animadversiones, Cidade do Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 1995, Schema №3, VII, XV).

78. Catecismo do Concílio de Trento, Parte I, Art, IX, Q. XV.

79. 1Tm III, 15.

80. Mt XII, 30.

81. Mt XVIII, 17.

82. 2Co VI, 15.

83. Papa São Leão Magno, Sermão CXXIX.

84. Papa Pio IX, Etsi Multa (1873).

85. Papa Leão XIII, Satis Cognitum (1896).

86. A linguagem da ‘comunhão plena’, ‘unidade mais completa’ e ‘incorporação mais completa’ foi introduzida no Vaticano II em Unitatis Redintegratio No. 3 e Lumen Gentium Nos. 1, 14 e 15; neste último documento, esta linguagem é contrastada com aqueles que, embora não totalmente unidos, estão ligados ou relacionados à Igreja de várias maneiras.

Uma linguagem semelhante de “esferas de pertencimento” também foi usada por João Paulo II no Discurso aos Cardeais e Colaboradores nos Organismos da Cúria Romana nº 11 (28 de junho de 1980). Em Dominus Iesus No. 17 (2000), ele falou da Igreja de Cristo “presente e operante” em seitas não católicas, mas carentes de plena comunhão.

O erro sobre a Igreja de Cristo estar “presente e operante” nas seitas cismáticas foi novamente ensinado por Bento XVI em Respostas a algumas questões relativas a certos aspectos da doutrina sobre a Igreja No. 4 (2007).

87. Pe. Alfred Loisy (1857–1940) foi um modernista excomungado em 1908. Depois de sua excomunhão, tornou-se professor de história secular, abandonando totalmente a religião e morrendo impenitente.

88. Vaticano II, Lumen Gentium, 5.

89. Dz. 211.

90. Papa Leão XIII, Satis Cognitum (1896).

91. Papa São Pio X, Pascendi (1907).


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