Por Stephen Heiner, True Restoration
Algumas pessoas leram o artigo publicado há um mês sobre a CMRI sem saber nada sobre quem eu sou, nem sobre o que escrevo. Eles não sabiam que eu não tenho por hábito espalhar rumores, muito menos buscar manchetes sensacionalistas. Somos, de um certo modo, bem “tediosos” no que oferecemos: episódios de rádio acerca do Catecismo, Escrituras Sagradas, o Ano Litúrgico, Nossa Senhora, por exemplo. Por muito tempo viemos evitando questões controversas, apesar de termos gravado um episódio tratando a questão das vacinas em janeiro de 2020, antes de ser um tópico de real polêmica, no qual um sacerdote explicou que vacinas no geral são moralmente neutras, e também explicou sobre o princípio de participação remota em um mal segundo os princípios da Teologia Moral. Isto foi o mais próximo de um assunto controverso “corrente” a que chegamos nos últimos anos.
No passado fizemos uma série de episódios sobre “Controvérsias Tradicionalistas” com o Pe. Cekada, na qual exploramos sua história e experiência com várias dessas controvérsias. Alguns de nossos episódios trataram da SSPV e alguns de nossos inscritos pagantes cancelaram suas inscrições, denominando tais episódios como “sensacionalismo”.
O que me pareceu curioso na época, e ainda me parece, é a inabilidade de todos em perguntarem, “Isto é verdade?” O que vimos em realidade foi um partidarismo “Esta é minha gente, eles não podem errar, como se atrevem a acusa-los?” Mas ninguém está isento de ser examinado, seja a SSPV, seja a CMRI, seja o RCI, seja o IMBC, seja o clero de SGG, seja quem for, não somente em nossas circunstâncias, porém até quando a Igreja se encontrava numa situação “normal”.
O que eu testemunhei como respostas ao artigo nas redes sociais e em e-mails privados foram expressões de pura emoção:
“Quem morreu e fez o Heiner Papa?”
“Onde estão as provas?”
“Meu padre nunca disse isso”.
Estas acusações talvez venham da tendência em nossa sociedade de ler manchetes ao invés de artigos, e, neste aspecto, provavelmente falhei.
Quando eu intitulei o artigo “O porquê a CMRI não é uma opção para Católicos sérios” eu dei uma razão inteligível para as pessoas reagirem de forma emocional e concluí com uma consideração que ainda não havia provado. Sendo assim, eu decidi trocar o nome do artigo e o chamei de “O que os Católicos sérios devem saber sobre a CMRI”. Este título coloca o artigo no formato no qual eu havia originalmente pretendido, isto é, algo para abrir uma discussão e seguir com uma mudança na política da CMRI, caso fosse possível. Cometi um erro neste aspecto e me desculpo por isto.
Eu frequentei missas da CMRI em três continentes e ouvi de vários fiéis que o clero da CMRI diz ser permissível frequentar missas una cum. Não creio que exista uma conspiração de vários leigos mentindo sobre o que a CMRI ensina. O testemunho que ouvi de tais pessoas corresponde com minha experiência pessoal com Dom Pivarunas, que diretamente contradiz este ponto específico, porém não a conclusão principal do documento oficial, disponível no site da mesma, que diz que eles “condenam” a frequência às missas una cum, embora no mesmo documento se pode encontrar “Por outro lado, se por alguma razão alguém sentir necessidade de comungar, poderá então assistir e comungar em tais missas, caso não haja outras disponíveis”. (Ênfase no original).
Não escutei nenhuma “condenação” da parte de Dom Pivarunas quando perguntei a ele sobre tais questões, e portanto fui acusado por alguns de seus fiéis de haver fabricado (mentido) ou de ter manipulado provas (tirar a fala do bispo de contexto). Posso apenas reforçar meu testemunho pessoal em resposta à primeira objeção e rir da segunda no contexto do documento citado: Eu estava diretamente buscando saber se poderia ou não frequentar a missa una cum na época, e estava tendo dificuldades em aceitar a moralidade disso. O bispo teve uma oportunidade sob medida de intervir e me dizer que eu não poderia, mas escolheu, no entanto, me encorajar em meu comportamento errôneo.
Eu reforço meu testemunho pessoal em relação a Dom Pivarunas e ainda apoio os testemunhos de outros fiéis que frequentaram a CMRI e presenciaram as atitudes laxas de seu clero acerca da frequência a missas una cum.
Quanto à questão da moralidade da frequência às missas una cum, o argumento de duas décadas de “não se tratar de pecado mortal” foi pisoteado, e foi exaurido por clérigos de ambos os lados. Não é trabalho de um leigo dizer o que é ou não é pecado mortal e discutir com clérigos (somos ovelhas, não pastores), e certamente não tratamos disto no artigo original. Mas para que a discussão prossiga adiante, ponhamos de lado a questão dos argumentos sobre “ser ou não pecado mortal” e perguntemos “é em qualquer medida prudente?”. A resposta é um claro “não”.
Por analogia, posso falar sobre conversas que tive com o clero da FSSPX sobre o novo rito de sagração episcopal, que tem implicações também na validade das ordenações sacerdotais. Após rodeios de uns 15 minutos, decidi ir direto ao ponto “Padre, o senhor se confessaria com algum destes sacerdotes (ordenados por bispos sagrados no novo rito)?” Um “não” muito rápido seguiu, quase involuntariamente. Então, após advogar a validade da ordenação destes sacerdotes, o sacerdote da FSSPX confessou, efetivamente, que pessoalmente ele não cria na validade de suas ordenações.
Então também, a natureza humana é fraca, de modo que quando leigos escutam “não é pecado mortal”, nós frequentemente (erroneamente) concluímos “está bem”, e os testemunhos que ouvi de fiéis da CMRI indicam que isso é exatamente o que ocorreu. Não importa se os que leram meu artigo responderam indignados que “nunca ouviram isso antes”. Estão eles de fato dispostos a tomarem sobre si a responsabilidade por todas as palavras do clero da CMRI ao redor do mundo? Estão dispostos de fato a chamar de mentirosos todos aqueles que dizem ter ouvido de clérigos da CMRI que é lícito frequentar missas una cum? Estão realmente dispostos a desacreditar alguém que está disposto a declarar publicamente que foi pessoalmente orientado por Dom Pivarunas, sendo que provavelmente será criticado por tanto (que é precisamente o que aconteceu)?
Então, ao invés de oferecer várias citações do clero dizendo que algo “não é pecado mortal”, por que o clero da CMRI não faz justamente o que creio que são todos capazes de fazer: Publicar uma declaração na qual dizem que pessoalmente jamais participariam de uma missa una cum e listar as razões para tanto”. Isto removeria quaisquer dúvidas sobre a política da CMRI e fecharia as portas para a frequência às missas una cum “porque o padre disse que não era pecado mortal”. O cálculo moral para tal decisão mudaria seriamente se o enquadramento fosse “O padre me disse a razão porque jamais frequentaria uma missa una cum”.
Tal declaração da CMRI, ostensivamente a maior organização católica tradicional sedevacantista no mundo, mudaria o paradigma, seria bem-vindo, e seria defendido neste blog.
Quanto a segunda questão, o Padre Carlos Borja publicou uma “resposta” através do Twitter (de fato um meio impróprio para responder acusações tão gravosas, dadas as limitações de caracteres) elipticamente confirmando que a CMRI de fato se envolveu em questões matrimoniais, denominando-as “decisões morais” e inferindo que isto era algo feito no passado distante, e não algo sendo feito no presente. Infelizmente, isto contradiz as declarações do Padre Gabriel Lavery e do Padre Francisco Radecki, que quando foram arguidos a queima roupa sobre tais questões, por ocasião do funeral do Padre Cekada no fim de 2020 responderam afirmativamente, que de fato a CMRI lida com anulações hic et nunc, e não em um nebuloso passado tradicionalista. Além disso, o Padre Lavery afirmou que diz a seus fiéis que se ele não estiver disponível para rezar a missa para eles, que eles podem, de fato, ir a missas una cum, como as oferecidas pela FSSPX. Eu pessoalmente não creio que o Padre Radecki ou o Padre Lavery negariam que fizeram tais declarações, então cai sobre os apologistas da CMRI retraírem suas acusações estridentes contra mim no que toca a realidade de tais declarações.
Como um adendo, Padre Borja também inferiu, ao se referir à participação de Dom McKenna nessas “decisões morais” (leia-se anulações) que Dom Sanborn, sagrado por Dom McKenna, aprovou tais ações. Não foi este o caso, e Dom Sanborn explicitamente me confirmou que ele jamais participou de tais “decisões morais”.
O Cânon 1960 declara que “casos matrimoniais entre pessoas batizadas estão baixo a guisa de um juiz eclesiástico por direito próprio e exclusivo” e o Cânon 1572 diz que um tribunal deve ser constituído pelo bispo ordinário da diocese. Como dito no artigo original a epikeia não permite que tais casos sejam julgados por quem quer que seja fora as autoridades listadas, muito menos pela CMRI, e denominar tais processos “decisões morais” ao invés de o que realmente são, efetivamente “anulações”, é, mais uma vez, problemático, para dizer o mínimo.
Padre Cekada e Dom Sanborn ambos me disseram em ocasiões separadas que na maioria absoluta dos casos que eles viram em décadas de experiência sacerdotal, eles tiveram que dizer aos casais que recorreram a eles que um deles provavelmente contraiu um matrimonio válido e que a única maneira do casal coabitar doravante seria como irmãos. 99% vão embora tristes, pois eles tiveram vários casamentos.
Se eu não soletrei meu intento original no artigo, me desculpo por não ter sido claro. Não cometerei o mesmo erro novamente.
Escrevi o artigo para iluminar duas questões muito problemáticas que não são teorias da conspiração, mas sim problemas reais. Se forem corrigidos pela CMRI seremos os primeiros a anunciar (e aplaudir) tais mudanças.
Finalmente, eu corrigi o último parágrafo de nosso texto original para que seja entendido desta forma, que melhor comunica a intenção original do artigo.
“Baseado no que sei, creio que a melhor opção é não se associar à CMRI, e eu busquei alternativas melhores. Apesar de que eu desejaria o mesmo a outros, e recomendaria onde possível, eu entendo que tais alternativas não são factíveis para muitos. Até que a CMRI modifique suas posições sobre tais assuntos importantes, cremos que os católicos deveriam ser cautelosos em buscar aconselhamento moral ou teológico de seu clero que concorda com tais coisas; e o laicato que frequenta suas capelas deveria pedir a seus padres que façam o que possam para assegurar que estes problemas sejam retificados o mais rápido possível devido à sua seriedade e gravidade. Ninguém deve confundir nosso levantamento dessas sérias preocupações com uma falta de reconhecimento de todas as boas obras que o clero desta organização fez e continua fazendo”.
A correção do título do artigo, a identificação dos sacerdotes e a ocasião de seus comentários que possuem implicações diretas nas alegações que fiz no artigo anterior, bem como o novo parágrafo final, devem todos remover as conjecturas de que estaríamos interessados em mentir e lançar bombas sem propósito, e então indicar que estamos gravemente perturbados e gostaríamos de ver uma vultuosa mudança na direção da CMRI, uma mudança que nós como leigos estaríamos em nossa competência de pedir ao clero nestes tempos desafiadores e confusos.
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